sábado, 1 de março de 2008

"Cloverfield - Monstro" de Matt Reeves 2007

Amo LOST e obviamente criei expectativas em cima do filme, já que a produção é do mesmo criador da série, J.J. Abrams.
Porém, o filme deve ser analisado de duas formas: experimental e entretenimento.
Se for avaliar pelo lado experimental, é um filme bem-sucedido.

A câmera assume o ponto de vista central, deixando de ser apenas "o buraco da fechadura" do espectador, para se tornar um objeto de cena, importante para história, se não, um tipo de personagem. O filme só acontece porque a câmera está ligada, gravando ou rebobinando. Ela assume o mesmo papel de qualquer outro personagem, vítima do caos, pois está registrando apenas aquilo que o operador da câmera grava, ou seja, um único ponto de vista, específico, mas falho. Para reforçar sua independência, a fita utilizada está com gravações de outros momentos dos personagens, aproximando a filmagem de algo amador, como o filme propõe, tornando a câmera um personagem com visão exclusiva, além da visão do seu operador. Além disso, a duração da fita é o tempo real em que a história se passa.

O resultado, que alguns comparam com
"A Bruxa de Blair
", seria pegar uma fita daquilo que alguém filmou, diante de uma situação inusitada, e transpor sua gravação, sem cortes, para o cinema. É um efeito mentiroso, mas convincente. Funciona como um outro filme qualquer, planejado, com roteiro, produção, direção, cenário e etc, mas finge que não. Para ele funcionar, exige planos longos e com raros cortes, que se tornam parte da narrativa, pois são os momentos de outras gravações na fita. É um filme que exige treino, planejamento e com certeza, improvisação. E juntamente com tudo isso, ainda insere efeitos especiais.

Considerando tudo isso, sua proposta é inovadora e lança novos questionamentos sobre teoria do cinema.

Agora, analisando como forma de entretenimento, é um filme que não vale a pena pagar para ver no cinema, pois é tremido, agoniante para a vista e nem um pouco assustador.

A história é uma grande piada. Sem explicação, um monstro invade Manhatan, e alguns amigos que estavam fazendo uma despedida, tornam-se vítimas do caos e passam a registrar o que acontece ao redor.

O filme é repleto de situações impossíveis, forçando atuações e posicionamentos atípicos. Filmar amigos morrendo, filmar enquanto se equilibra para salvar a namorada do amigo, filmar o exército fazendo o resgate, filmar o monstro a centímetros de distância. Numa situação normal, com a vida em risco, seria difícil continuar segurando uma câmera, que nada sofre e que não acaba a bateria.

O seu estremecimento "natural" é exagerado, pois mesmo sendo uma câmera de porte pequeno, em alguns momentos seria possível deixá-la mais plana.

E a estratégia de não mostrar o monstro por completo para aterrorizar ou instigar o espectador é falha, pois o "bicho" não assusta em nada e o fato de não explicar sua aparição, confunde mais ainda. O filme teve chances, pois o personagem-operador filma a TV em alguns momentos, ou a explicação de terceiros (exército), que ajudam a construir uma narrativa mais estruturada, para não ficar algo totalmente amador e sem nexo, mas nem isso é capaz de fazer do filme algo compreensível e apreciador. Parece ser um grande despercídio.

A tentativa é válida, mas a escolha não foi das melhores. Talvez com outro tipo de história, e adotando estas técnicas inovadoras, o resultado seja mais interessante! Algo com espíritos, ou uma câmera escondida onde acontece um crime horrível, ou...enfim...falta algo mais surpreendende, instigante e amedrontador.

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