terça-feira, 27 de maio de 2008

"Cabra marcado para morrer" de Eduardo Coutinho 1964-84

Singular.
Um grande acidente, pois não é ficção e nem documentário, é um filme sobre um projeto que não deu certo mas que tomou outro rumo, e contextualiza um momento marcante para o Brasil, a ditatura militar.
Ignorando os motivos que poderiam causar revolta, o filme acontece pelo não-acontecer.
Coutinho iniciou um projeto que narraria uma história verídica através de uma ficção, usando personagens e locais reais de forma ficcional. Mas com o golpe militar, e com a apreensão e destruição de grande parte do material, quase tudo se perdeu, inclusive os personagens, que fugiram, morreram ou sumiram. Numa época comum de exílio e medo, natural que isso tenha acontecido.
Década de 80, pós-ditatura, Coutinho resolveu retomar o projeto, mas com outro intuito, o de contar o que aconteceu, resgatando cada história e reencontrando exilados. É nesse reencontro que acontece a emoção e a comoção de perceber as cicatrizes profundas que a ditatura deixou em grande parte dos envolvidos no projeto, inclusive do próprio Coutinho.
Além dessa contextualização, algumas passagens do filme mostram como a televisão se incorporou ao cotidiano das pessoas, talvez numa tentativa de esquecer o que aconteceu, e alinear-se no puro entretenimento, afinal se rebelar tornou-se algo extremamente negativo numa época de perseguição e morte.

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