sábado, 26 de julho de 2008

Esgotamento mental

Oi pessoal (ou não-pessoal)!
Apesar de estarmos no mês de julho, suposto mês das férias, comecei num novo emprego: edição de audiovisuais numa produtora de vídeo. São 6 horas, mas entro e saio editando, ou pelo menos pensando em soluções, pesquisando trilhas, fazendo ajustes ou estudando outros materiais audiovisuais.
Pode não ser diretamente associado ao cinema, mas aplico muito conhecimento teórico e estético adquirido com a experiência pessoal e acadêmica tanto em cinema como em design.
É um trabalho que abrange eventos em geral, como aniversários infantis, adolescentes (15 anos), casamentos, programas de televisão e alguns projetos individuais.
O trabalho de edição requer concentração, criação, técnica, solução, pesquisa, iniciativa, ajustes, aperfeiçoamento, efeitos, prática. É cansativo, mas prazeroso!
Ganha-se de uma forma, perde-se de outra. Digo isto porque conseqüentemente influenciou minhas escolhas recentes de filmes. O trabalho exige muito da mente e até do corpo e por isso causa um certo esgotamento mental.
Quando chego em casa (férias?), só tenho vontade de ver aquilo que não cansará ainda mais minha mente, pois um filme mais profundo, filósofico, poético, alternativo remete a reflexão, concentração ou exige um esforço mental maior para algum tipo de compreensão ou entendimento.
Ou seja, tenho optado por filmes "comerciais": filmes de entretenimento, filmes de massa, sucessos de bilheteria, lançamentos recentes, programação do cinema local. Aqueles que se propõem a no mínimo entreter.
São filmes que não exigem muito da mente, mas nos arrancam boas risadas, algumas lágrimas, raras reflexões, certos vazios...mas relaxam, divertem, comovem, e servem de razão para um programa coletivo de múltiplos gostos. Afinal não somos perfeitos e iguais, certo?!
Talvez não seja um cinema exemplar, aina mais para um acadêmico de cinema, mas admito: fico na torcida, porque na vida precisamos de algumas "fugas saudáveis".
Manifesto a favor do cinema comercial? Não tanto, mas acredito que há lugar para todas as manifestações audiovisuais.
Apelando para um romantismo superficial:
Que nossa vida não seja completada apenas por um cinema conceitual e profundo...
Que existam filmes tolos, românticos, engraçados, que possam nos entreter e descansar nossas mentes, quando tudo que precisamos é fugir um pouco de nós mesmos e das nossas metas, determinações, crenças e valores...mesmo que seja por apenas 2 horas! =)

Filmes do mês - julho

Atualizando no decorrer do mês, na ordem em que assisto.

-Um crime de mestre de Gregory Hoblit 2007 (2)
-O suspeito de Gavin Hood 2007 (2)
-Loucas por amor, viciadas em dinheiro de Callie Khouri 2008 (2)
-Eu os declaro marido...e Larry de Dennis Dugan 2007 (2)
-Hitch, conselheiro amoroso de Andy Tennant 2005 (3)*
-Batman - O cavaleiro das trevas de Jonathan Nolan 2008 (5)
-O diabo veste Prada de David Frankel 2006 (5)*
-Kung fu panda de Peter Berg 2008 (5)
-Hancock de Peter Berg 2008 (1)
-Wall-e de Andrew Stanton 2008 (5)

(0) horrível; (1) ruim; (2) razoável; (3) bom; (4) muito bom; (5) excelente*Revistos

domingo, 20 de julho de 2008

"Batman - O cavaleiro das trevas" de Jonathan Nolan 2008

Sinopse? A origem do cavaleiro das trevas, que poderia se referir ao Batman, o herói incomprendido, humano e imperfeito; como ao promotor Harvey Dent, o "Duas-caras", que é a prova de que algo bom, colocado ao limite pode se tornar o extremo oposto. Ou seja, o Coringa "vence", provando que "mesmo alguém tão bom pode ser corrompido".
Dentre tantas pessoas, qual poderia se tornar o pior inimigo? Aquele que já foi o "melhor amigo", o melhor exemplo, o extremo oposto do mal, pois aquilo que já foi "o melhor" é o único candidato a se tornar "o pior".
Coringa, o verdadeiro "grande" personagem do filme: a materialização do que existe de mais profundo no interior humano, onde encontra-se o limite entre a consciência e a inconsciência. Ele é insano, louco, "um cachorro tolo correndo atrás dos carros", o perturbador da ordem humana. Desordem esta causadora do caos total. "Nada que venha dele é tão simples".
O filme causa um grande mal estar e vai além de um mero filme de ação. Talvez por isso não agrade aqueles que procuram apenas entretenimento e ação do início ao fim.
Mais do que uma mensagem "bonitinha", ele nos lança a reflexão do interior humano, daquilo que se origina de uma natureza desconhecida, dos profundos sentimentos incontroláveis e da relatividade das coisas.
A questão não é se identificar com algo ou alguém, mas reconhecer ambos os extremos dentro de nós. Se o Coringa é tão cruel, como podemos rir diante de suas piadas? Rimos de nós mesmos, do ridículo em nós, que reconhecemos nos outros, mas também sentimos raiva dele, da personificação do pior em nós. Na verdade somos Coringa e Batman, somos Duas-Caras, somos todos estes personagens e nosso riso é nervoso, nosso olhar é atento e nosso corpo tenso.
Quando o Coringa dialoga com vários personagens, diz que o medo estabelece o caos. E o que é o medo, se não algo fora do planejado? Algo imprevísivel e incontrolável? O medo domina as atitudes conscientes humanas e manifesta um lado adormecido ou calado, que até então não parecia se mostrar.
O mal vence no final? Não... a vida, o mundo real não se divide tão simplesmente entre o bem e o mal. O conflito é interno, diário e eterno. A individuação de Jung é o conflito de duas naturezas opostas e fundamentais, ou seja, é uma espécie de equílibrio que só existe através do conflito. Então a personificação do mal: Coringa; ou do Bem: Batman; ou do limite entre os dois: Duas-caras é apenas a representação da vida humana.
Este conflito existe dentro do ser humano e sempre existirá em busca de um equílibrio e nos cabe apenas fazer as escolhas diante do caos. Qual dos lados deixaremos emergir? É importante saber da existência dos dois, pois se algum é reprimido, manifesta-se violentamente de outra forma, como é o caso do promotor Dent.
Harvey Dent é símbolo de esperança para Gothan City, mas quando sente-se profundamente ameaçado (diante de sua própria vida e da vida de quem mais ama), manifesta agressividade. Batman reprime (o lado bom), pois muitas expectativas positivas giram ao seu redor, mas quando é colocado num limite extremo, a agressividade o domina e ele manifesta um lado adormecido, motivado pelo ódio e desesperança, ao invés de odiar Coringa, cede a ele. Torna-se um vingador, mas extrapola qualquer limite e vestígio de consciência ou bondade. Decide pela sorte ou seja, deixa-se levar e não controla mais seus atos ou pensamentos.
No desfecho, com a suposta morte de "Duas-caras", Batman e o comissário de polícia decidem então manter em segredo a verdade sobre Dent, pois uma cidade sem esperança é uma cidade caótica, desmotivada e desordeira, tudo que o ser humano, os "heróis" e o "ordem" presente não querem, por isso algum sacríficio é necessário, pois o equilibrio é necessariamente conflituoso.
Obs.: Desde que estudei C. G. Jung em Teorias do Sujeito no semestre passado, tento sempre buscar alguma profundidade nos personagens apresentados. Neste filme, a análise é rica e possível a partir de algumas das suas teorias que tratam de conceitos como individuação, insconsciente coletivo, etc.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

"Wall-e" de Andrew Stanton 2008

Impossível não se apaixonar por "Wall-e"!
É uma romântica animação sobre a história de amor que acontece entre dois robôs, contendo uma certa reflexão sobre o rumo do planeta e da vida humana.
Wall-e e Eva são de origens diferentes. Além de possuirem tecnologias distintas, ele cumpre o papel de reciclar o lixo, enquanto ela precisa encontrar vida na Terra.
O homem é representado de duas formas: como referência de alegria, energia, sentimento e vida, através do musical "Hello! Dolly" que preenche a solidão e o vazio das noites de Wall-e, dependente de energia solar. E através do sedentarismo e da alienação humana, presentes nas gerações que restaram do planeta.
Wall-e é um robo com sentimentos e manifestações humanas, pois apesar de possuir a tarefa de reciclar o lixo, ele reserva um espaço especial para objetos que despertam seu interesse, quebrando sua rotina mecânica. Já os humanos sobreviventes agem como verdadeiros robôs alienados e mecânicos, onde suas rotinas se resumem à alimentação e comunicação virtual, até que a desordem se estabeleça.
É uma linda e simpática história de amor entre dois robôs, que serão responsáveis pela possível recuperação do planeta, que não será mecânica e nem planejada, apenas uma tentativa baseada na esperança de quem ainda acredita que existe vida ou algo de valor, aonde não se acreditou mais existir.

"Encantada" de Kevin Lima 2007

A Walt Disney Pictures e seus parceiros propõem um novo conto de fadas: moderno, musical, mas em gigantescas proporções.
A história é de uma princesa sonhadora, que encontra seu príncipe encantado, mas é banida do seu mundo mágico por uma madrasta malvada. Até aí previsível.
O que me impressionou no filme foi a produção artística que movimentou inúmeros artistas, figurantes, dançarinos e técnicos para realização das cenas musicais. O que antes era comum só em desenho animado ou animações em C.G., agora já pode ser encontrado na tela com os moldes dos filmes musicais.
"Encantada" é um filme bobo, mágico e engraçadinho, mas trazido para o mundo moderno. "Se uma princesa encantada caísse no mundo real, como ela seria? O que aconteceria?"
Acontece que ela percebe que um dia não é mais suficiente para se conhecer o príncipe encantado, que o que importa é a intensidade do que se faz com o tempo, e que o príncipe que antes parecia ser seu par perfeito, pode na verdade não ser, e o inesperado se revelar como seu verdadeiro complemento.
É uma história divertida e engraçadinha de se ver. Talvez sirva apenas para relembrar a fantasia que já existiu em nossas cabecinhas infantis e sonhadoras há algum tempo atrás.

"O diabo veste Prada" de David Frankel 2006

Alguns filmes nos conquistam pelo carisma dos atores/atrizes que interpretam protagonistas, sejam diabólicas e sofisticadas chefes; ou inocentes mocinhas sonhadoras, profissionais recém-formadas.

Mas o que vale destacar do filme inteiro, é a fala de Miranda Priestly (imortal Meryl Streep), quando Andrea "Andy" Sachs (carismática Anne Hathaway) caçoa de dois cintos azuis que parecem iguais.

Num discurso inflamado e sem interrupção, Miranda descreve com classe e seriedade, como o trabalho que (eles) os profissionais da moda estão fazendo, influenciará qualquer peça encontrada em qualquer loja ou brechó, selecionados intencionalmente ou ao acaso, mesmo por quem acredita estar sendo contrário ao que eles pregam.

Então rir deles é como rir de si mesmo, mesmo em sua falsa e ilusória originalidade, pois de uma certa forma, todos são escravos, vítimas ou público-alvo, daqueles que decidem fazer parte de um mundo tão polêmico e hipócrita como o da moda.

Não que eu concorde totalmente, mas não tiro a razão. Nossas escolhas até podem ser originais, mas partem da decisão de outras, que possuem um certo poder nas mãos, direta ou indiretamente. E parece tolice citar Moda, mas este conceito é aplicável a todas as outras áreas artísticas. (e mais?) Reforçando a idéia de que algo ao mesmo tempo que é original, também pode ser adaptado. É uma questão de ponto de vista. É relativo, incompleto e cíclico.

"Kung fu panda" de Peter Berg 2008

Há muito tempo eu não ria tanto, e há muito tempo eu não via uma inovação cinematográfica tão sofisticada no universo da computação gráfica.
Além das mensagens bonitas, filosóficas e das referências orientais, tanto da cultura quanto das lutas marciais, a animação impressiona pela sofisticação e complexidade dos movimentos de luta, comuns nos filmes de ação.
É puro experimento e avançada tecnologia!
É uma nova proposta da Pixar, e um novo método de entretenimento que promete conquistar um espaço bem concreto entre os espectadores!