domingo, 20 de julho de 2008

"Batman - O cavaleiro das trevas" de Jonathan Nolan 2008

Sinopse? A origem do cavaleiro das trevas, que poderia se referir ao Batman, o herói incomprendido, humano e imperfeito; como ao promotor Harvey Dent, o "Duas-caras", que é a prova de que algo bom, colocado ao limite pode se tornar o extremo oposto. Ou seja, o Coringa "vence", provando que "mesmo alguém tão bom pode ser corrompido".
Dentre tantas pessoas, qual poderia se tornar o pior inimigo? Aquele que já foi o "melhor amigo", o melhor exemplo, o extremo oposto do mal, pois aquilo que já foi "o melhor" é o único candidato a se tornar "o pior".
Coringa, o verdadeiro "grande" personagem do filme: a materialização do que existe de mais profundo no interior humano, onde encontra-se o limite entre a consciência e a inconsciência. Ele é insano, louco, "um cachorro tolo correndo atrás dos carros", o perturbador da ordem humana. Desordem esta causadora do caos total. "Nada que venha dele é tão simples".
O filme causa um grande mal estar e vai além de um mero filme de ação. Talvez por isso não agrade aqueles que procuram apenas entretenimento e ação do início ao fim.
Mais do que uma mensagem "bonitinha", ele nos lança a reflexão do interior humano, daquilo que se origina de uma natureza desconhecida, dos profundos sentimentos incontroláveis e da relatividade das coisas.
A questão não é se identificar com algo ou alguém, mas reconhecer ambos os extremos dentro de nós. Se o Coringa é tão cruel, como podemos rir diante de suas piadas? Rimos de nós mesmos, do ridículo em nós, que reconhecemos nos outros, mas também sentimos raiva dele, da personificação do pior em nós. Na verdade somos Coringa e Batman, somos Duas-Caras, somos todos estes personagens e nosso riso é nervoso, nosso olhar é atento e nosso corpo tenso.
Quando o Coringa dialoga com vários personagens, diz que o medo estabelece o caos. E o que é o medo, se não algo fora do planejado? Algo imprevísivel e incontrolável? O medo domina as atitudes conscientes humanas e manifesta um lado adormecido ou calado, que até então não parecia se mostrar.
O mal vence no final? Não... a vida, o mundo real não se divide tão simplesmente entre o bem e o mal. O conflito é interno, diário e eterno. A individuação de Jung é o conflito de duas naturezas opostas e fundamentais, ou seja, é uma espécie de equílibrio que só existe através do conflito. Então a personificação do mal: Coringa; ou do Bem: Batman; ou do limite entre os dois: Duas-caras é apenas a representação da vida humana.
Este conflito existe dentro do ser humano e sempre existirá em busca de um equílibrio e nos cabe apenas fazer as escolhas diante do caos. Qual dos lados deixaremos emergir? É importante saber da existência dos dois, pois se algum é reprimido, manifesta-se violentamente de outra forma, como é o caso do promotor Dent.
Harvey Dent é símbolo de esperança para Gothan City, mas quando sente-se profundamente ameaçado (diante de sua própria vida e da vida de quem mais ama), manifesta agressividade. Batman reprime (o lado bom), pois muitas expectativas positivas giram ao seu redor, mas quando é colocado num limite extremo, a agressividade o domina e ele manifesta um lado adormecido, motivado pelo ódio e desesperança, ao invés de odiar Coringa, cede a ele. Torna-se um vingador, mas extrapola qualquer limite e vestígio de consciência ou bondade. Decide pela sorte ou seja, deixa-se levar e não controla mais seus atos ou pensamentos.
No desfecho, com a suposta morte de "Duas-caras", Batman e o comissário de polícia decidem então manter em segredo a verdade sobre Dent, pois uma cidade sem esperança é uma cidade caótica, desmotivada e desordeira, tudo que o ser humano, os "heróis" e o "ordem" presente não querem, por isso algum sacríficio é necessário, pois o equilibrio é necessariamente conflituoso.
Obs.: Desde que estudei C. G. Jung em Teorias do Sujeito no semestre passado, tento sempre buscar alguma profundidade nos personagens apresentados. Neste filme, a análise é rica e possível a partir de algumas das suas teorias que tratam de conceitos como individuação, insconsciente coletivo, etc.

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