sábado, 23 de agosto de 2008

Filmes do mês - agosto

Isso que dá ficar doente por uma semana! hehe
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São atualizados no decorrer do mês.

22T- Redentor de Cláudio Torres 2004 (1)
21A-Através das oliveiras de Abbas Kiarostami 1994 (1)
20T-Um beijo a mais de Tony Goldwyn 2006 (5)
19D-Requiém para um sonho de Darren Aronofsky 2000 (3)
18D-Tropa de elite de José Padilha 2007 (3)*
17T-Herbie - meu fusca turbinado de Angela Robinson 2005 (1)
16T-Diário de uma Paixão de Nick Cassavetes 2004 (5)*
15P-A lenda do tesouro perdido 2 - O livro dos segredos de Jon Turteltaub 2008 (2)
14P-O vidente de Lee Tamahori 2007 (2)
13P-Jumper de Doug Liman 2007 (2)
12T-A lenda do tesouro perdido de Jon Turteltaub 2004 (3)*
11T-Linha mortal de Joel Schumacher 1990 (3)*
10P-O caçador de pipas de Marc Foster 2007 (2)
09A-Santiago de João Moreira Salles 2007 (3)
08C-A Múmia 3: A Tumba do Imperador Dragão de Rob Cohen 2008 (1)
07A-Os catadores e a catadora de Agnès Vardas 2000 (3)
06D-Saindo de uma fria de Christian Charles 2007 (1)
05D-Ela e os caras de Joe Nussbaum 2007 (1,5)
04C-Cinturão vermelho de David Mamet 2008 (-1)
03D-Licença para casar de Ken Kwapis 2007 (0)
02T-O dia depois de amanhã de Roland Emmerich 2004 (2)*
01C-Viagem ao centro da terra de Eric Brevig - 3D 2008 (2)
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Organização: Ordem crescente - em números. Nome do filme + diretor + ano.
Códigos: A (em aula); C (cinema); D (dvd próprio ou locadora); P (pirata ou baixado); T (tv)
Notas: (0) horrível; (1) ruim; (2) razoável; (3) bom; (4) muito bom; (5) excelente

*Revistos

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Charadas cinematográficas

Quem nunca brincou disso?

Charada: Era uma vez um cachorrinho chamado Tido. Um dia seu dono foi procurá-lo no seu cesto de dormir e ele não estava lá. Qual o nome do filme?

Resposta: O cesto sem Tido
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Charada: Uma mulher estava no último andar de um prédio alto, caiu de bunda no chão e morreu. Qual o nome do filme?

Resposta: A cusada de morte
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Charada: Dez garotos estavam no cinema comendo Mentos e começaram a jogar nas pessoas. Qual o nome do filme?

Resposta: Os dez manda Mentos
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Charada: Um tênis afundando no mar. Qual o nome do filme?
R: TitaNIKE.


Agora vamos a alguns inventados:

Charada: Gladys foi ao dentista arrancar alguns dentes. Qual o nome do filme?
R: Gladys e a dor

Charada: A esposa perguntou ao marido, que havia perdido algo, o que ele estava fazendo. Qual o nome do filme?
R: Procurando né, mô?

Charada: Um grupo de caipiras se perdeu numa clínica de estética. Qual o nome do filme?
R: Perdidos no spa, sô

Quando vier mais, colocarei! =)

Os filmes de "Sensação"

Sabe aquela sensação de surpresa que se sente ao ver filmes como "Sexto sentido", "Os outros", "O orfanato", "O grande truque"?! Eu chamo de "sensação única", pois ela só existe na primeira vez que você vê o filme e jamais se repete (com o mesmo filme). Jamais!

Também é necessário não saber de nenhum segredo do filme antes de assistir, ou algo que sugira o que está por vir. Na verdade o ideal é nem saber nada do filme e não tentar adivinhar nada (por mais que seja difícil) ou a sensação não ocorrerá, porque o êxtase acaba sendo decifrado antes do momento ideal.

É por isso que não é qualquer filme que consegue ser um "filme de sensação". Existem filmes, de suspense por exemplo, que nos enrolam com mistério e uma história cabeluda, para no final criar uma lógica, antes inexistente, para explicar e justificar o filme e a história. Péssimo. O espectador se sente tapeado, porque tentou decifrar através de pistas e evidências, mas jamais conseguiria adivinhar porque a explicação vem do "além" e dos "bastidores" do filme, ou seja, só no final realmente poderia ser revelado.

Acredito que a grande sacada dos melhores "filmes de sensação" é ser tão bem planejado e bem feito, que o espectador quando não está entretetido, concentrado e compenetrado na história, até tenta decifrar e adivinhar o que está por vir, mas erra ou não consegue, e por isso ao final sente aquele orgasmo cinematográfico "Ahhhhhhhhh" de quem pensa "Poxa, estava na minha cara, mas eu não percebi que era isso!". Há alguns que até adivinham. Normal. Mas perdem a chance de sentir aquela sensação única de descoberta e deslumbramento momentâneo. Sim, porque depois se desliga a tv, troca o canal, sai do cinema e vai comer, etc. (Como sorrir, relaxar, virar e dormir!) hehe

Eu detesto os filmes fracos, onde adivinhamos sua história já na metade, sem muitos esforços. E detesto os filmes que nos enrolam. O universo cinematográfico está cheio destes. Mas a-m-o os filmes de "sensação". Porque ele nos dá as pistas, mas é omisso, traiçoeiro. Ele foca outros elementos narrativos para nos confundir e desviar a atenção do foco principal. Por isso precisamos checar, re-assistir para observar o que passou despercebido (propositalmente), mas jamais teremos aquela sensação única novamente, no máximo uma saudade do que sentimos naquela pela primeira vez.

Com este assunto, listo aqui alguns dos filmes de sensação que marcaram minha trajetória como espectadora! Listo os que me vem na cabeça, alguns que re-assisti recentemente e por ordem crescente de favoritos.

01- Vidas em jogo de David Fincher 1997 (múltiplos) Nota: 5
02- Bem me quer, mal me quer de Laetitia Colombani 2002 Nota: 5
03- O orfanato de Juan Antonio Bayona 2007 Nota: 5
04- O sexto sentido de M. Night Shyamalan 1999 Nota: 5
05- Os outros de Alejandro Amenábar 2001 Nota: 5
06- As duas faces de um crime de Gregory Hoblit 1996 Nota: 5
07- A vida de David Gale de Alan Parker 2003 Nota: 4
08- A vila de M. Night Shyamalan 2004 Nota: 4
09- O grande truque de Christopher Nolan 2006 Nota: 3
10- Clube da luta, Seven - os sete pecados capitais.... Nota: 2

Obs.: As notas neste caso estão associadas ao nível de surpresa. Valem do 5 ao 0.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

“Batman – O cavaleiro das trevas” de Jonathan Nolan 2008

por Alessandra Collaço da Silva
para Revista Punctum - Curso de Cinema UFSC

“Batman” pode ser analisado a partir das teorias da psicanálise, principalmente de Carl Gustav Jung, concentrando-se no desenvolvimento da psicose e neurose, manifestadas por personagens do filme.
Psicose e neurose são manifestações do inconsciente humano, quando em situação limite. Cada ser humano manifesta somente uma delas e não está ao seu alcance saber qual delas lhe pertence até que viva a experiência. Somente numa situação limite poderá saber como seu inconsciente se manifestará. A psicose é irreversível e é fruto de um insconsciente reprimido, característica dos doentes mentais de situações irreversíveis. Já a neurose é uma manifestação também de um inconsciente reprimido, porém o sujeito retoma consciência sozinho ou quando em tratamento.
Para entender melhor, é importante lembrar que o conceito de individuação para Jung é o conflito entre duas naturezas fundamentais, no caso, da consciência e inconsciência. Ou seja, o conflito é importante para busca do equilíbrio, porém nenhum pode reprimir o outro, pois quando o ser humano é colocado no seu limite, descobrirá algo antes completamente desconhecido de sua consciência.
O personagem Coringa já se apresenta num estágio de psicose manifestada. Em algum momento da sua vida foi colocado ao limite. A origem da sua cicatriz é narrada ironicamente em diversas versões, deixando indícios da possível situação limite. Ou seja, algo o motivou a reprimir a consciência. Então a sua inconsciência manifestou-se através da psicose, tornando-se desequilibrado e inconseqüente. Para os padrões da nossa sociedade ele é julgado como um doente mental, um louco, ou até um agente do “mal”.
Para Coringa não há limites e seu verdadeiro interesse não é destruir o Batman ou a imagem de bom moço do Promotor de Justiça Harvey Dent, mas colocar a população da cidade, incluindo os dois supostos heróis, em situações limite e observar como cada um manifestará seu lado mais obscuro e secreto: seu inconsciente. Em vários momentos do filme, Coringa apronta armadilhas para provocar o medo e conseqüentemente o caos. A mais interessante é a cena em que dois barcos tentam fugir de Gotham City: um com presidiários e policiais, e outro com pessoas comuns. Um dos “barcos” precisa escolher quem merece viver, pois cada um possui o controle de detonação do barco oposto. Aqui temos diversas manifestações e julgamentos equivocados, onde os “comuns” julgam-se mais merecedores de viver e onde um dos presidiários diz para um policial “Você é incapaz de tirar uma vida inocente, mas também não quer morrer”. O espectador sente-se incomodado, tenta refletir sobre o que faria em determinada situação, mas é incapaz de escolher conscientemente, porque não se encontra verdadeiramente nesta situação limite. Por isso o filme é tão incômodo ou tão instigante para alguns.
Além desta, Coringa prega uma armadilha para o promotor Harvey Dent e o herói Batman. Os dois sofrerão a mesma situação limite: a perda da mulher amada. E cada um reage de forma diferente. Enquanto Batman escolhe salvá-la, acaba salvando o promotor. Este o culpa por não ter escolhido salvá-la, desconhecendo a verdade dos fatos. Se soubesse, faria diferença em suas atitudes?
Os dois sofrem, os dois chegam ao limite, mas Batman consegue retomar o equilíbrio, no máximo culpando a si mesmo pelo acontecido, porém não sabe que sua amada já não o amava mais, pois o mordomo fiel destruiu a carta que ela lhe escreveu. Novamente: se soubesse, faria diferença em suas atitudes?
Já o mais exemplar membro da sociedade, um ícone do bem, aquele que busca Justiça, não consegue superar seu sofrimento e entrega-se a psicose, que em alguns momentos deixou vestígios, como no interrogatório que fez, utilizando o método de roleta russa. Harvey Dent torna-se então o Duas caras, que é o sujeito que reprimia seu inconsciente, mesmo sendo um agente a favor da Justiça. Quando colocado em situação limite, manifestou a mais obscura das suas naturezas: a vingança do mal causado para si.
Batman não permitirá que a sociedade saiba disso, pois o caos provocará desesperança e como Batman se culpa pelo acontecido, assume o lugar de culpado. Temos então “o cavaleiro das trevas”, aquele que assume a culpa, dentro de sua própria neurose e o cavaleiro das trevas que torna-se um psicótico e decide se tornar vingador de sua própria causa.

“Os catadores e a catadora” (Les Glaneurs et la Glaneuse) de Agnès Vardas 2000

por Alessandra Collaço da Silva

“Catar” é a busca pelo que sobrou das colheitas, mas também é a busca por outras sobras. Sobras das feiras, do lixo, dos restos das pessoas. Daquilo que ninguém mais quer, mas que pode ser aproveitado por aqueles que não tem a escolha de querer ou por aqueles que enxergam possibilidades além das que lhe são impostas.

Nem sempre o resto é totalmente descartável. Ele pode ser reaproveitado, reciclado, reutilizado, revisto. Pode se tornar outra coisa, pode ser inovador. E é o catador(a) quem pode criar um novo destino para aquilo que foi descartado.

Conceitos, visões, pensamentos, reflexões, representações, manifestações artísticas. Agnes, além de realizadora, é também uma catadora conceitual.

Talvez como ponto de partida ou como reflexão, o documentário de Agnes ruma a algo além do tema sugerido ou da história e/ou intenção em si. A interação da realizadora com o tema, a narração das suas escolhas e das suas observações, sobrepõem-se sobre o conteúdo. Agnes nos narra o que vê, o que sente, e o que pretende. É uma relação além do que intenciona documentar. É a sua descoberta da câmera e a tentativa de torná-la seu olhar, ou apenas um olhar. Mesmo desconhecendo as limitações do equipamento, tenta registrar algo além do que vê: aquilo que sente em relação ao objeto.

Agnes às vezes nos parece ingênua, mas sua pele enrugada, sua noção de tempo passado, sua aceitação interagem com suas descobertas, e o desconhecimento diante de algo novo torna-se deslumbramento.

A câmera até funcionaria como o olho humano, mas não possui um cérebro que possa codificar e decodificar mensagens, significações, pensamentos, intenções. Ela apenas mostra o que os olhos vêem, mas a identificação ocorre de outra maneira, e Agnes tenta transmitir algo além de sua própria compreensão. Tenta de alguma forma nos envolver, nos explicar, mas nós, espectadores, estamos limitados às imagens, e apenas traçamos uma relação da realizadora com aquilo que ela tenta nos contar. Descobrimos uma relação da realizadora com o objeto narrado. É nessa relação que o filme acontece. O filme não é apenas de catadores e catadoras com suas experiências e reflexões, mas é um filme sobre Agnes e sua relação com as coisas e pessoas. É um documentário sobre alguém que tenta documentar algo. É um documentário sobre uma catadora de imagens, de conceitos, de descobertas, porque catar também é descobrir uma nova utilidade para aquilo que parecia inútil.

"Santiago" 2007 de João Moreira Salles

por Alessandra Collaço da Silva

Santiago foi um empregado da família de João Moreira Salles. Sendo um mordomo fiel, uma pessoa tão peculiar, instigou o cineasta a fazer um documentário sobre sua vida e seu universo tão particular.

Primeiramente Salles nos narra como imaginava começar seu filme, afinal foi um projeto várias vezes interrompido e retomado anos mais tarde. Mostra três fotos e o significado para si de cada uma delas, como a cadeira solitária na varanda e a fachada da casa em que viveu. Depois nos mostra as dificuldades, as imagens que fez para ilustrar as histórias do ex-mordomo, a edição das supostas nove horas de material filmado de Santiago na frente das câmeras e também as peculiaridades do mesmo.

Ao meu ver, “Santiago” não é um filme sobre Santiago, mas sobre um garoto que se deslumbrava com seu mordomo e resolveu lhe prestar uma homenagem. Não falou do pai, da mãe, ou do irmãos, mas do seu empregado, que provavelmente lhe preencheu boa parte da vida e o acolheu em diversos momentos solitários. Dentre tantas pessoas em sua vida, porque falar sobre Santiago?

Santiago me pareceu aquela pessoa que era feliz com o que tinha, com o que era. Aceitava a vida e tirava proveito dela como podia. Pareceu um alguém solitário e submisso, que resolveu preencher grande parte da sua trajetória, registrando em anotações a vida de nobres, curiosidades e o que sentia em relação a tudo aquilo. Foi um escritor, talvez silencioso, secreto, mas de certa forma, talentoso.

Apesar das particularidades de Santiago, da excelente fotografia e dos demais elementos técnicos que tornam o filme muito bem feito esteticamente, o filme me transmite um certo vazio, um certo egocentrismo, de alguém que se colocou indiretamente (ou não) num lugar superior para falar da vida de outro. Santiago, que era submisso, talvez aceitou com alegria ser retratado, mas sabia ele que manteriam na edição seus momentos espontâneos? Os momentos em que erra e uma voz-off pede-lhe para repetir, ou a mesma voz, que conduz a história, pergunta, questiona, tornando-o um mero objeto da narrativa, um fantoche para uma obra tão egocêntrica? Santiago é conduzido, interrompido, controlado, como a um empregado, mesmo não o sendo mais.

Salles não conseguiu se desprender do papel que cumpria na vida de Santiago e continuou a tratá-lo como aquele que pode moldar às suas vontades. Se fez de propósito? Talvez. Quem sabe Salles não queria mostrar um pouco de si mesmo, através de Santiago, usando-o como um objeto? Quem sabe não tenha pensado: “Sobre o que eu poderia fazer um documentário? Resposta: Minha vida”. “Que parte da minha vida seria interessante? Resposta: A parte em que Santiago, o mordomo da casa, fez parte”. Mas para nós espectadores o foco permaneceu em Salles e na sua tentativa de resgatar algo do passado, ou homenagear alguém que de certa forma foi especial para si mesmo unicamente. Não é à toa que a casa, os cômodos, e a narração das lembranças permanecem como objetos da narrativa, assim como Santiago. Mesmo que esta não tenha sido a intenção. Santiago é retratado sempre na cozinha, na sua pequena sala entre suas volumosas anotações, ou sendo conduzido, questionado. Se as partes espontâneas que aparecem, tinham este propósito, no momento em que ouvimos a equipe o conduzindo, ela se torna planejada, pensada, objetiva, independente de qual fosse sua intenção.
Enfim, se a intenção era mostrar apenas Santiago, isto poderia ter sido feito sem associar o sujeito principal abordado do seu realizador, também sujeito da história. A partir do momento que existiu esse vínculo maior, Santiago tornou-se um mero objeto da narrativa que Salles se propôs a fazer. Uma história fragmentada, onde as partes que lhe interessam são destacadas e onde Santiago nem pôde prestigiar, pois morreu antes do projeto ser finalizado.