domingo, 12 de outubro de 2008

Filmes do mês - outubro

São atualizados no decorrer do mês.

12A-Faces de John Cassavetes 1968 (2)
11T-Mamãe quer que eu case de Michael Lehmann (2)*
10D-Antes que o diabo saiba que você está morto de Sidney Lumet 2007 (5)
09C-Espelhos do medo de Alexandre Aja 2008
08C-Noites de tormenta de George C. Wolfe 2008
07T-A outra face de John Woo 1997 (5)*
06T-A nova onda do imperador de Mark Dindal 2000 (2)
05T-A mulher do meu irmão de Ricardo de Montreil 2006 (2)
04C-As duas faces da lei de Jon Avnet 2008 (1)
03A-Elefante de Gus Van Sant 2003 (3)
02C-Nem por cima do meu cadáver de Jeff Lowell 2008 (2)
01D-Olho por olho de Jonh Schlesinger 1995 (4)*
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Organização: Ordem crescente - em números. Nome do filme + diretor + ano.
Códigos: A (em aula); C (cinema); D (dvd próprio ou locadora); P (pirata ou baixado); T (tv)

Notas: (0) horrível; (1) ruim; (2) razoável; (3) bom; (4) muito bom; (5) excelente

*Revistos

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Ensaio sobre o “Ensaio” II

Enviado para Revista Punctum - Revista Eletrônica de Cinema - UFSC
Edição Setembro 2008, mas texto REJEITADO.
www.punctum.ufsc.br

por Alessandra Collaço da Silva

Não li o livro (ainda). Nunca ouvi falar da história até duas semanas. Um casal dizia que havia detestado. Eu sabia da existência do filme na pré-produção e um pouco da sua repercussão no Brasil. Coisas do tipo: diretor brasileiro, atriz famosa, locação em São Paulo e blabláblá. Desafio: assistir e entender porque aquele casal não havia gostado. Fiquei sem uma boa resposta. Não é um filme qualquer, não conheço nada para compará-lo. É forte e chocante. É um filme de gosto difícil. E pra mim, não deixa de funcionar como uma mensagem, um anúncio ou mesmo um ensaio de algo muito maior que está ou pode estar por vir.

É sobre o caos estabelecido e a reação das pessoas diante do caos. Ou talvez um ensaio sobre um caos já existente de uma população sem fé, sem ética e sem valores. Uma cegueira metafórica, porque nem todo que enxerga realmente vê e nem todo cego realmente não enxerga. Uma cegueira branca, pela luz excessiva, ou uma cegueira causada por tudo aquilo que os rodeia, mas que não se enxerga mais: a injustiça, o preconceito, a falta de valores, a maldade, a exploração, a banalização, a mentira e tantas outras atitudes dos seres humanos diante da vida, julgadas sem importância ou sem a iniciativa de mudá-las.

Em certo momento do filme, a “esposa do Doutor”, Julianne Moore, entra numa igreja onde todas as esculturas de anjos e santos estão vendadas. Enquanto ela observa horrorizada, já que é a única que enxerga, ouvimos em off uma voz masculina dizer que São Paulo foi convertido através da cegueira, mas também ouvimos a mesma voz se questionar sobre o caos da cegueira, alegando que não é coisa de Deus. Por que não seria?

Uma epidêmica cegueira como apresentada no filme, até poderia ser uma intervenção divina, mas as escolhas e atitudes humanas diante dela não são divinas. Matar, estuprar, enganar, ajudar, ceder, cobrar, amar são da natureza do ser humano. Se a vida e nova realidade ficou mais difícil pela cegueira, cabe a eles decidir o que fazer e como se portar diante de tal problema. Culpar o outro é apenas uma desculpa para não agir.

A cor do filme é opaca e clara como num dia nublado. Tudo é muito branco e com excesso de luz. Associada a religiosidade, poderíamos sentir realmente uma manifestação divina, já que o branco no geral é associado a paz, a clareza, a espírito e equilíbrio. Essa brancura poderia ser uma manifestação positiva, uma cegueira que os obrigaria a realmente enxergar. A câmera inclusive, adota esta postura, quando insiste em vários momentos em enquadrar e estabilizar num lugar qualquer, como o olhar de um cego. Um olhar vago que não se entretem com nada, mas um "nada" que posteriormente nos remete a algo. Algo como o tempo decorrido, através da transformação das frutas na casa do "Doutor e esposa". Ou um trecho de rosto, um pedaço de braço, uma lágrima escorrendo. Talvez uma mensagem para nós, afinal o nosso olhar obrigatoriamente é o olhar da câmera, e é o ser humano quem está sendo retratado no filme.

O filme me remete a dois ditados conhecidos: "Em terra de cego, quem tem um olho é rei! (ou quem é "cego" também.)" e "Dê poder ao homem que conhecerás teu cárater". Os personagens não têm nome, sua profissão não importa, nem sua vida passada, mas todos têm seus valores. Bons ou ruins. E o filme nos apresenta as atitudes de alguns personagens diante desta cegueira contagiosa e repentina.

Descobrimos entre os cegos contaminados, um cego de nascença. Um dos líderes da Ala 3. Ala que impõe suas vontades e tiram de outros, o pouco que lhes resta: a dignidade. Este cego é "Rei". Ele passou a vida "enxergando" pelos cheiros, pelos sons, pelo tato. Ele sabe determinar quando algo é ou não de valor pelo tato. Ele reconhece alguém pelo cheiro ou pelo som. Este cego na verdade enxerga.

E a "esposa do doutor"? Será que não desejava a cegueira? Será que queria ver as pessoas se transformarem em monstros, por comida? Vê-las perder a dignidade? Ver a feiúra do ser humano, tanto fisicamente quanto metaforicamente?

De uma certa forma, era cega. Submissa e generosa, liderou o grupo, aprendeu a conviver, a aceitar e a adaptar-se. Acostumou-se. Precisou matar e ameaçar para sobreviver, mas não se orgulha por isso. Ela podia ter agido diferente, mas agiu com caráter e semelhança. E quando percebeu que a cegueira poderia ser reversível? Ficou feliz? Afinal ela estava se sentindo alguém. Alguém importante e prestativo, talvez um alguém com um novo sentido na vida. O seu mundo tornou-se um lugar novo.

Se São Paulo se converteu através da cegueira, será que ela, no meio de uma cegueira absoluta, sendo a única que enxergava, teria se convertido?

A sensação é de incerteza. De incapacidade e impotência. De caos e horror. Mas também de esperança e da necessidade da fé. O ser humano muitas vezes precisa decidir como reagir ao caos, porque no fundo, é esta decisão que realmente importa, independente se tudo ao redor parece tão perdido e sem sentido.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

"Olho por olho" de John Schlesinger 1995

Em breve. (ou não...)

Pensamento do dia

Obrigada Deus, pelo talento da música.
Eu não tenho este talento, mas agradeço aos que têm.
Agradeço pela música que adoça meus ouvidos e acompanha meu humor.
O mundo só é um lugarzinho melhor por causa dela.