quinta-feira, 13 de novembro de 2008

“Faces” de John Cassavetes 1968

por Alessandra Collaço da Silva

Um filme sobre personagens, muito mais que uma história em si. Um marido que procura fora o que não encontra no próprio casamento. Uma jovem mulher que não sente atração pelo marido e nem pela vida. Uma outra que alivia a solidão na bebida e nos homens que conhece, na esperança de um dia encontrar alguém que a ame de verdade. Uma reflexão sobre o fardo do tempo e a conseqüência das escolhas que pesam com o passar dos anos, mantendo os personagens numa constante melancolia.

Gena Rowlands faz o papel de Jennie, que assume no filme o estereótipo da mulher sexy, e divertida, mas não para casar. Vista como prostituta, talvez pela época do filme, nos dias de hoje se aproxima muito mais da mulher moderna e liberal que de uma profissional do sexo. Para ela o tempo corre ainda mais, afinal quando se entra nessa vida, difícil é sair dela.

Jennie parece muitas vezes incomodada com a vida que leva, mas também conformada por falta de escolha, já que não é mais aquela “virgem” jovem, cheia de sonhos e desejos, com o futuro a esperando pela frente. Ela fez suas escolhas e agora atura as conseqüências.

Na seqüência inicial, quando conhece Chet e seu amigo, vemos um trio se divertindo, alcoolizado e gozando de um momento simples e banal da vida. Eles bebem, riem e contam piadas, tudo aparentemente espontâneo, porém quando o “amigo” a lembra que ela é apenas uma prostituta, que vende o corpo, a companhia e a beleza jovial por trocados, ela desaba. Seu rosto demonstra impotência, infelicidade, pois antes parecia conseguir aproveitar e ver o lado bom da vida que leva, mas é essa mesma vida que faz questão de lembrá-la da sua realidade. Que os homens se aproximam por interesse, muitas vezes para satisfazerem-se, quando suas esposas não conseguem mais. Homens que só querem usufruir da sua beleza, corpo e companhia, não importando seus sentimentos e vontades.

Jennie enxerga em Chet uma possibilidade de mudança, de alguém que poderia tirá-la dessa vida. Quando ele aparece em meio a outro “cliente”, ela projeta nele uma salvação e esperança. Despacha o outro “velho insatisfeito” e liberta-se para Chet. Este que decide se separar, já que a esposa não o corresponde. Chet é cavalheiro, gentil e educado e parece não se importar com seu passado. Tudo isso, até o dia seguinte. O maldito dia seguinte pra qualquer mulher solteira, que tem esperanças de ainda viver um grande amor e significar algo para alguém.

Apesar de narrar situações de casais e relações, a câmera parece estar muito mais em função da mulher, já que focaliza bastante em planos fechados seus olhares de frustração e desejo.

De vez em quando vemos Jennie com seus olhares de esperança reprimida, ou descaso forçado, ou ainda de conformidade com a realidade. Jennie é puro olhar, pura transpiração. Ela é mistério e desejo. Jennie é a mulher existente dentro de todas as mulheres. Muitas vezes adormecida, muitas vezes totalmente liberada!

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