quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

família.

Quem foi o idiota que inventou a família?

Essas pessoas estranhas que fazem parte do ciclo da vida.
As únicas a quem as palavras mais cruéis podem magoar profundamente, mas que viram pó no dia seguinte.
Um pó invisível visível.
Palavras cruéis que se colam num muro de rancores e lembranças.
Elas sempre estão lá. Junto com o perdão diário.

Pessoas sem qualquer afinidade, mas com uma única ligação: pertencer a mesma família.

Aquelas com quem compartilhamos os melhores e piores momentos.
Um montinho de gente "escolhido" por um Deus com um puta humor negro. FDP.

Pior ainda. A gente ama incondicionalmente esse montinho de gente. Saco.

Quem dera ser diferente. Quem dera os momentos compartilhados na infância não significarem tanto. Quem dera as risadas não superassem as lágrimas causadas. Quem dera as qualidades não superassem os defeitos. Quem dera ser capaz de odiar pra sempre e fechar as portas do coração. Quem dera não se importar com essas pessoas que conseguem desabar qualquer mundinho cor-de-rosa. Quem dera não ter orgulho de seus progressos. Quem dera não poder escolher a família.

Amigos não são a família que podemos escolher. A gente acha que sim. Mas nenhum amigo suportaria o que uma família suporta entre si.

Quem foi o idiota?

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

"Estranhos no paraíso" de Olsen Jr.

"Voluntária ou involuntariamente, era função da vida guardar aquele dinamismo ascético capaz de, mesmo no auge da bem-aventurança, manter pessoas que se amam, separadas..."

"...quando se quer justificar alguma atitude sempre encontramos bons argumentos. Quando não existem, nós os criamos."

"Felizes são os homens que têm uma opção, que podem escolher; mesmo equivocados. A escolha é sempre uma alternativa, algo possível que permite ao homem, ainda que solitário, mostrar sua liberdade...mas, mais importante do que isso, pensou, é o que saber fazer com ela..com esta liberdade que torna possível encontros e desencontros, mas porque, somente ela, a liberdade, torna suportável a solidão."

"A menina que roubava livros" de Markus Zusak

O melhor livro da minha vida. (até onde eu me lembre).
Não pela história, mas pela forma de contá-la. E pelo valor das palavras.
"Quando a morte decide contar uma história, você deve parar para ouvi-la."
A morte torna-se um personagem concreto e com certos sentimentos para falar de alguns anos da vida de Liesel, uma garota que é acolhida por uma família durante a 2ª Guerra Mundial. Uma garota que a encontrou 3 vezes.
Através dessa família, Rosa, Hans e Liesel, e os acontecimentos que os rodeiam, temos um ponto de vista que até então eu nunca presenciei em nenhum filme, reportagem ou outro livro do tipo: o ponto de vista dos alemães que não eram judeus e no entanto também sofreram com repressões e limitações do nazismo de Hitler.
É um livro sobre personagens. E um livro emocionante e triste.
Falar da Guerra sempre é um assunto triste.

"A troca" de Clint Eastwood 2008

Inconveniente.

Destaco essa sensação porque eu queria ter saído do cinema.

Sabe aquela sensação: "tá eu sei que isso existe e acontece todo dia, mas não quero ver, não quero saber e tenho raiva de quem sabe."?

Uma sensação de impotência e angústia. Tudo construído através dos planos longos da angústia da personagem de Jolie. E uma direção de arte de primeira. Mas apenas para ilustrar o cenário obrigatório de época. Nenhuma estética diferente pra destacar. E um lindo chapéu-coco dos Anos 20.

Uma grande injustiça. Um grande erro. Um horror. Uma vontade de não estar ali.

E um bom concorrente no Oscar 2009 para meu filme favorito sobre um tal de Benjamin. =)

Não rolou um "punctum" muito positivo. E eu nem queria falar do filme, mas falei. Alguma coisa pelo menos.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

"O curioso caso de Benjamin Button" de David Fincher 2009 (5)

Uma profunda poesia sobre a relatividade do tempo.

Uma metáfora do ciclo da vida humana e todas as suas particularidades.

Um belo filme sobre um personagem chamado Benjamin Button. E como diz o título, uma história curiosa sobre um homem que nasceu fisicamente idoso e morre fisicamente recém-nascido. Ressalto o "fisicamente", pois a mente de Benjamin obedece o amadurecimento da idade. Isso inclui uma espécie de Mal de Alzheimer ao fim de sua vida, quando esquece tudo o que viveu. Para mim, uma das passagens mais dolorosas e intensas, quando ele-criança diz para Daisy que tem a impressão de que viveu uma vida inteira, mas não se lembra dela.

Eu ousaria compará-lo com "Forrest Gump - Um contador de Histórias" de Robert Zemeckis 1994, quando narra passagens históricas, como as Grandes Guerras e a loucura The Beatles ,através da vida de um personagem principal, motivado (obviamente) por uma complexa história de amor. Afinal, que grande história no cinema, sobre um "grande" personagem, não envolve uma história de amor? De preferência complexa, claro.

Além disso, o estilo a la Forrest Gump, é reforçado pela relação de Benjamin com pessoas singulares que o marcaram em seu percurso de vida. Apesar de não lembrar de alguns nomes, jamais esqueceu da importância delas (até certa altura da vida, como percebemos na leitura do Diário). Uma cantora de ópera, um homem repetidor "eu já falei que fui atingido por 7 raios?", uma idosa que lhe ensinou a tocar piano, um capitão de rebocador, uma mulher casada que "quase" atingiu um recorde, um pai arrependido fabricante de botões, uma bailarina famosa e tantos outros, que em suas peculiaridades fizeram parte da formação de Button. Reforçados ao final expressam o valor da vida e da importância de valorizá-las. Funções e pessoas quaisquer, apenas metafóras, pois para cada um de nós o significado de quem amamos é diferente.

O filme é rico na direção de arte, com destaque na caracterização dos atores. Com exceção dos atores mirins que interpretam os personagens de Benjamin e Daisy na infância (no caso, Benjamin no fim da vida), os atores Brad Pitt e Cate Blanchett interpretam seus personagens na juventude, fase adulta e fase idosa. É perceptível que o contraste de luz foi uma das escolhas mais usadas para amenizar os efeitos de maquiagem, que nem sempre ficam perfeitos. E os tons acinzentados tornam-se alaranjados a medida que Button rejuvenece. Se antes tínhamos dias cinzas e frios, ao rejuvenecer e encontrar o amor nos braços de Daisy no auge de sua juventude, as cenas se passam em dias mais claros e ao pôr-do-sol.

Mesmo sendo evidente em filmes de época, a direção de arte vai além e cria uma estética particular, próxima a filmes como "O fabuloso destino de Amelie Poulan" e outros do diretor
Jean-Pierre Jeune. Cores vivas em contraste com tons cinzas, semblantes marcados, dos personagens, contrastes de luz e uma fotografia próxima a pintura de um belo quadro em várias passagens do filme.

Como eu disse, um belo filme. Daqueles que reúnem escolhas e expressões artísticas, com uma mensagem interessante sobre a vida humana.

Uma mensagem sobre as possibilidades e chances de recomeços para se fazer e ser o que quiser, mas que diminuim ao passar do tempo. Uma mensagem sobre o tempo que corre cada vez mais depressa e nos lembra que a vida não é para sempre e tudo que se ama se perde ao final do ciclo. Uma mensagem para o espectador, reforçada no último plano do filme, quando a água invade um aposento aonde um relógio antigo e abandonado continua funcionando e fazendo o seu tic-tac.

Tempos Modernos

Tempos Modernos
Lulu Santos
Composição: Lulu Santos


Eu vejo a vida
Melhor no futuro
Eu vejo isso
Por cima de um muro
De hipocrisia
Que insiste
Em nos rodear...

Eu vejo a vida
Mais clara e farta
Repleta de toda
Satisfação
Que se tem direito
Do firmamento ao chão...

Eu quero crer
No amor numa boa
Que isso valha
Pra qualquer pessoa
Que realizar, a força
Que tem uma paixão...

Eu vejo um novo
Começo de era
De gente fina
Elegante e sincera
Com habilidade
Pra dizer mais sim
Do que não, não, não...

Hoje o tempo voa amor
Escorre pelas mãos
Mesmo sem se sentir
Não há tempo
Que volte amor
Vamos viver tudo
Que há pra viver
Vamos nos permitir...

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

"Sete vidas" de Gabriele Muccino 2008

Chorei.

Chorei porque lembrei dos momentos em que penso que minha vida não é tão ruim, mas às vezes, a uma certa altura e se tivesse ao meu alcance, eu a trocaria com alguém que a mereça mais do que eu.

Deprimente né? Eu sei. Só que muito mais comum do que se imagina. (não estamos sós nessa).

Isso acontece naqueles momentos em que os acontecimentos tristes e angustiantes nos abatem e nos assombram quando queremos desistir da complexa e difícil vida humana. Não acontece com todos. Mas só entende aquele que se identifica diretamente com "Ben".

Polêmico? Talvez.

Afinal, porque simpatizar com alguém que é: saudável. rodeado de pessoas que o amam. e que decide tirar a própria vida para salvar outras sete através da doação dos seus órgãos e bens.?

E isso após causar acidentalmente a morte de outras vidas, incluindo a da esposa amada, deixando claro que jamais conseguiria conviver com isso. Ele não as matou. Foi uma fatalidade, porque se fosse um homicídio culposo, doloso ou o diabo, ele nem estaria em liberdade. Mas independente da lei, um ser com um mínimo de bom cárater se culparia de qualquer forma.

É uma situação delicada. Como julgá-lo?

Se ele estivesse doente, seria mais fácil?

Se ele não se apaixonasse seria apenas uma história de jornal ou de um livro best-seller. É por inserir um problema, que a história se torna interessante e expressivamente cinematográfica.

O filme não é óbvio e se constrói em imagens. Uma escolha ousada e sábia. Se fosse óbvio se tornaria um filme dramático, excelente para uma chuvosa Sessão da Tarde com atores mexicanos dublados em português ou para se assistir nas madrugadas da Sessão Corujão.

Tá, exagerei.

Mas são as construções visuais e de informações soltas que montam uma trama na mente do espectador. Nem tudo fica respondido ou claro e é isso que torna o filme interessante e compenetrado.

Will Smith possui um carisma e simpatia naturais. E seu personagem transmite o mesmo.

A passagem mais forte, porém antecipadamente prevísivel é o bip de Emile tocando. Sabemos então que ao ganhar um coração novo, perde-se o do amado. E ponto.

Mas não poderia de ressaltar que a mensagem relevante do filme é a doação de órgãos. Das vidas que podem ser salvas a partir de uma que se perde. Mas de preferência, por uma fatalidade e ciclo normal da vida.

Eu gostei, mas eu sei que é um daqueles filmes apenas para se tirar algo de bom, já que não é o mais forte e profundo dos filmes.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

"Marley e eu" de David Frankel 2008

Uma linda declaração de amor daqueles que consideram os cães, os melhores amigos do homem.

Eu li o livro e me emocionei. Chorei, ri e me identifiquei por já ter tido cães e por adorá-los da mesma maneira. Porém após a leitura, eu deduzi que os não-adoradores jamais sentiriam a mesma empatia. O livro é só para nós.

Mas livro é livro. O leitor sempre tem o esforço de construir as imagens e de se identificar com elas. A leitura pode ser interrompida, estacionada e depois retomada normalmente, afinal o esforço serve para memorizar a história e simpatizar cada vez mais com ela. Nunca é tempo perdido.

Cinema é cinema. A imagem está pronta, só basta se identificar. Se interrompida, fica mais difícil. Então mesmo para os não-adoradores é um filme engraçado, divertido e levemente emocionante. Eu disse para os não-adoradores.

Eu até consegui arrancar do meu "namorido" um progresso: "Talvez a gente possa ter. Talvez." Pra quem dizia nunca, já é um ganho.

Agora para nós, totalmente adoradores, é um filme EMOCIONANTE. De soluçar e provocar dilúvios. É tão engraçado como um cachorro consegue ser com suas peculiaridades e tão emocionante quanto perder um dos entes mais queridos.

É uma adaptação sentimental fiel a do livro. E eu sei que é difícil transportar palavras de páginas em quase 2 horas de imagem, mas a emoção foi a mesma.

É um filme-best-seller excelente. E embargada de emoção, não consigo vê-lo com outros olhos.