segunda-feira, 27 de abril de 2009

"Meu nome não é Johnny" de Mauro Lima 2008

"Meu nome não é Johnny" me parece uma releitura "abrasileirada" de "Prenda-me se for capaz" de Steven Spielberg de 2002.

A estrutura cinematográfica é bem semelhante. Uma história real de um criminoso procurado no país e de sua trajetória pré e pós-prisão.

Assim como no filme de Spielberg, o início é marcado com sua prisão e na seqüência seguinte, mostra a sua infância e traços da sua personalidade, evidenciando indícios na construção de alguns valores adquiridos pelo meio em que vive: escola, companhias e pais.

No filme de Spielberg, essas evidências são marcadas pelas sequências aonde Frank é detido na escola por se passar por professor e o pai acaba rindo, dando um certo apoio a sua atitude. Em outro momento, Frank presencia a traição da mãe e ela oferece dinheiro para ele se calar.

Já nesse filme, na sequência da mãe (Julia Lemertz) conversando com o pai na cozinha, Johnny é citado como líder de "atrocidades" na escola pela direção e ela aponta a necessidade de conversarem com o filho. Enquanto estão na cozinha, Johnny e seus amigos soltam um rojão na sala e o pai ao invés de brigar, comemora o gol do Vasco, apoiando a atitude do filho, sem recriminá-lo.

Nos dois filmes, Johnny e Frank são filhos únicos e sofrem as consequências de pais separados. Mas nos EUA, Frank se envolve com fraudes para sobreviver sozinho, num momento pós-separação e encontra nelas, um meio de viver. Já no Brasil, a realidade mais comum do jovem brasileiro é o envolvimento com drogas, portanto nada melhor para ilustrar esse perfil, que narrar a história de João Guilherme.

Johnny é um jovem de classe média, sem motivação ou meta, que se envolve com drogas, curtindo seus amigos em festas de arromba. Encontra aí um meio para viver. Com a venda de drogas, ele pode manter essa rotina diária de festas e ainda manter seu próprio consumo. Ele nunca viu a venda de drogas como um negócio ou com olhar empreendedor, apenas como um meio de sobrevivência. É isso que ele relata em seu depoimento à justiça e é isso que faz a juíza (mão-de-ferro) dar uma chance a ele.

Os dois encontram redenção ao final do filme. Johnny se recupera em uma prisão de reabilitação para doentes mentais e dependentes; e Frank trabalha para o FBI, colaborando para captura de criminosos do seu porte.

A diferença mais evidente entre os dois filmes, é a presença de um antagonista em "Prenda-me se for capaz". O policial interpretado por Tom Hanks, ganha destaque ao lado de Leonardo Di Caprio, criando uma relação paralela entre os dois, até o momento de sua prisão. Duas linhas que se encontram num desfecho.

No filme de Mauro Lima isso não ocorre, pois a polícia é retratada de forma realista: corrupta e envolvida com o tráfico de drogas, assim como outros filmes nacionais também retratam. "Cidade de Deus" e "Tropa de Elite" são bons exemplos dessa realidade.

O que acho falho nessa versão "abrasileirada" é justamente a superficialidade na construção de personalidade de Johnny e sua verdadeira motivação em se envolver com drogas. O filme apresenta indícios, mas peca em não se aprofundar nessa construção. Apenas apresentá-lo como narração de um acontecimento real, não me parece suficiente em carga dramática e em expressão cinematográfica, na qual me parece que o filme se propõe.

O filme aborda superficialmente questões polêmicas como envolvimento da polícia com o tráfico e a situação dramática das prisões brasileiras e o sistema falho em devolver deliquëntes recuperados para a sociedade, além de outros assuntos como a separação dos pais, a inserção no universo das drogas através da maconha (cena da praia), a relação com os amigos, a relação com a namorada e suas crises de abstinência sem droga no centro de recuperação psiquiátrico (que não ocorrem).

Lima até tem uma boa proposta, mas ainda me parece uma releitura "abrasileirada" de um filme "hollywoodiano".

Um comentário:

JG disse...

Meu nome não é João Guilherme.

O filme é no mínimo 3 vai Ally!

Selton Mello é um bom ator, junto com Wagner Moura, Leandra Leal, Lázaro Ramos, Vanessa Giácomo (o melhor nome artístico que já existiu) formam a nova geração de atores de cinema brasileiros.