segunda-feira, 19 de julho de 2010

"A estrada" de John Hillcoat 2009

Ao chegar no balcão da locadora, a atendente apenas me disse que o filme é tão confuso quanto "Onde os fracos não tem vez", alegando ser um filme sem início e fim.
Eu sinceramente não entendi a razão da comparação, mas concordo que não tenha início e fim claros e agradeço muito por isso, ou a proposta perderia completamente a razão de ser.
Não há nenhum discurso moralista evidente, nem ao menos qualquer esclarecimento, basta um repertório mínimo para entender que a proposta do filme é mostrar um destino possível para a raça humana, enquanto não se conscientizar dos atos que poderão resultar na própria extinção.
É um recorte da vida humana pós-destruição, sem ao menos mostrar a luz no fim do túnel. Talvez uma metáfora do diário desafio de apenas viver.
Viver num mundo tão farto e desperdiçar cada abençoado dia de simplesmente estar vivo.
O que aconteceria se o mundo não tivesse mais energia, vegetação e alimento?
A essência para nossa sobrevivência. Ou até se não existisse mais fé?
Desejar a morte é a única saída.
Um planeta destruído, dividido pelos que ainda lutam para sobreviver sem perder a humanidade, e pelos que nunca a tiveram.
Focado num pai e filho, buscando o simples objetivo de sobreviver até onde for possível, num cenário de horror, já retratado em filmes como "Mad Max" e "Ensaio sobre a cegueira".
Até que ponto o homem chegaria pela sobrevivência?
Engraçado pensar que o cinema é usado para retratar um futuro aonde nem ao menos existe, onde talvez seja completamente desnecessário. Uma mera lembrança humana.
E diante de um cenário monocromático de horror, morte, lembranças e falta de fé, destaco um trecho narrado pelo pai (Viggo Mortensen) ao lembrar da esposa, "Se eu fosse Deus, criaria o mundo do jeito que é, sem mudar nada, pois só assim eu teria você!"
As pessoas costumam confundir os atos humanos com atos de Deus.
Só o homem é responsável pelo próprio destino, isto é o livre arbítrio.
Não existe mágica, apenas ações reais de ação e reação.
De colher o que se planta.
Os bons sofrem pelos maus, porque a humanidade é uma escolha.
O que nos resta é ter fé de que tudo isto que vivemos seja apenas uma passagem, um purgatório, mas se nem isso for, ainda vale a pena pensar nas coisas boas da experiência de viver. Vale a pena acreditar que o certo é ser bom e escolher ser humano.

Um comentário:

Unknown disse...

No cinema, vi pessoas indignadas ao final do Onde os fracos não têm vez... Encontrei o livro numa promoção, quase grátis, porque o título Onde os velhos não têm vez espantou os possíveis leitores...
Belo filme e livro incompreendidos por alguns, como foi On from the heart, de Coppola.
The Road é o primeiro lugar nas listas dos mais vendidos nos EUA.
Ótimo !! Ótimo esse seu texto tb Ally. Para vc, desejo muitos sustos e inspiração.
"Quando vi esse menino, pensei que tivesse morrido.
Pensou que ele fosse um anjo ?
Eu não sabia o que ele era. Nunca achei que fosse voltar a ver uma criança. Não sabia que isso ia acontecer.
E se eu disser que ele é um deus ?
ONDE OS SERES HUMANOS NÃO PODEM VIVER, DEUSES TAMBÉM NÃO SE SENTEM BEM.