quinta-feira, 12 de agosto de 2010

"Educação" de Lone Scherfig 2009

"Educação" é um filme do qual não se espera nada, e revela-se extremamente maduro.
Tão inocente quanto a personagem, somos levados a acreditar numa história que nos cativa gradativamente, com alguma ponta de desconfiança, mas com imensa vontade de entregar-se e torcer por um final feliz.
Um possível conto de fadas, um desejo de libertar-se, uma reflexão profunda sobre o destino de nossas vidas, principalmente, nós mulheres.
Somos conduzidos com tamanha sutileza e ingenuidade juvenil, que nos chocamos tanto quanto a personagem, com a condução da história.
Espera-se o melhor, espera-se o pior, mas a história é um meio termo.
Nenhuma idealização ou caracterização de personagens perfeitos, mas sim uma história contada sob a perspectiva de uma jovem, Jenny (interpretada pela estreante Carey Mulligan), com 16 anos, ótima aluna de uma escola conservadora em Londres, em plena década de 60, que se envolve com um homem, 20 anos mais velho David (Peter Sarsgaard) e que através dele, descobre um mundo de possibilidades diferentes da qual estava destinada desde que nasceu: estudar e cursar Letras em Oxford.
Os pais com muito esforço, investiram em sua educação, mas deixaram há tempo o lado divertido de viver. O lado em que reside o risco, o inconseqüente e o irresponsável. Simplesmente o lado onde nada se teme, pois tudo parece possível.
Talvez seja o destino de muitos pais, ainda hoje, sacrificarem a si mesmos, por um futuro melhor aos filhos. Dar uma educação melhor do que a tiveram.
De um lado, um pai, um homem conservador, exigente, mas medroso e inseguro, do outro, uma mãe, mulher submissa, que há tempos deixou de sonhar. Quando David ilumina a casa com seu humor e histórias divertidas, ainda que mentirosas, o sorriso desajeitado da mãe, revela uma mulher que projeta na filha, uma vida que não pode ter. E o pai, desajeitado, que há tanto tempo investiu na educação da jovem em ter uma carreira profissional, projeta na filha a possibilidade de uma vida divertida, prazerosa, sem tanto esforço. Uma vida de bem casada.
Onde reside o lado humano e imperfeito dos pais, reside também a fraqueza, e tão ingênuos como Jenny, falham no momento mais decisivo de sua vida, ajudá-la a decidir entre terminar os estudos ou casar e ter uma vida aparentemente alegre?
Como tanta luta escorregou tão fácil pelas mãos? Talvez um desejo obscuro, que nutrem secretamente, que os cegou a ponto de falhar.
Como no filme, nada na vida vem de graça. O sucesso é fruto de muito esforço e determinação. E aquilo que vem fácil, muitas vezes confundido com sucesso, é apenas uma passagem, uma lembrança, às vezes das boas, de uma fase que marcou, mas não foi e nem será garantia de um futuro bom e melhor.
Jenny é uma sortuda, ainda que tenha pego um atalho nada aconselhável, mas quantas Jennys existem lá fora? Quantas tem a chance de retornar ao caminho principal, sem conseqüências?

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