domingo, 1 de agosto de 2010

"Nova York, eu te amo" de 2009

A série ‘Cities of Love’ foi produzida pelo produtor francês Emmanuel Benbihy.
Trata da universalização do amor, mostrando as principais cidades do mundo tornando-se cenário de histórias e sentimentos cativantes.
Seguindo essa linha, já pudemos contar com o estreante "Paris, te amo" (2006) que traz 20 curtas, dirigidos por 20 diretores consagrados no mundo, como Walter Salles aqui no Brasil, colocando sua visão em histórias que tratam sobre o amor à cidade ou entre as relações humanas que envolvam amor, sejam em contextos cômicos, dramáticos ou beirando à fantasia na cidade de Paris.
"Nova York, eu te amo" foge da construção narrativa proposta pelo filme anterior.
Se antes, os 20 curtas tinham forma clara e específica, pois cada um começava com um título e sabíamos o diretor de cada deles, isto não acontece com o projeto de Nova York.
As histórias acontecem simultâneas, paralelas e/ou entrelaçadas, perdendo a característica de curta, para tornar-se um longa, composto e dirigido por diversos cineastas, como Fatih Akin, Yvan Attal, Allen Hughes, Shunji Iwai, Wen Jiang, Joshua Marston, Mira Nair, Brett Ratner, Randall Balsmeyer, Shekhar Kapur e a estreante diretora Natalie Portman, único nome que conheço no cinema, mas apenas como atriz.
Ao final trechos de cada história aparecem, nomeadas pelo diretor específico, ou seja, os atores, e as histórias foram dirigidas separadamente, mas o resultado final reúne o coletivo, equivalente ao projeto de Paris, mas desta vez, é difícil dizer onde começa e termina o trabalho de cada um. O longa é assinado por todos, pois nem sempre a transição das histórias ocorre com planos gerais da cidade. Às vezes os personagens se encontram nessa transição e o olhar da câmera segue o personagem da próxima história.
Bom ou ruim?
Eu prefiro o projeto de Paris, pois gosto das criações em curtas, por trazerem formas narrativas menores, compactas e extremamente criativas. Os olhares eram extremamente diferentes e os contrastes também. Porém talvez essa seja a cara de Paris e não de Nova York.
O que mais me decepcionei no projeto de Nova York, foram justamente os diálogos óbvios, ou aparentemente óbvios, como "É isso que gosto de Nova York, as pessoas daqui não são daqui". Achei desnecessário esse tipo de confirmação, pois ao longo das histórias isso fica comprovado pela diversidade cultural dos personagens. Não era necessário ser dito.
Em outros momentos os personagens dizem "é isso que gosto de Nova York, parar na esquina pra fumar um cigarro e conversar com estranhos". Achei tudo muito deslocado e descaracterístico. Sempre desnecessário, como se no fundo alguém quisesse explicar porque exatamente estava escolhendo aquela história para representar seu olhar diante da cidade que não dorme.
E não houve nada que remetesse diretamente à isso, ao famoso clichê "a cidade que não dorme". Ou talvez o não-recorte das histórias tenha essa proposta, tudo acontece simultâneo, paralelo, entrelaçado, como em qualquer cidade. As pessoas estão sempre se cruzando, cada uma com sua história particular, em cenários que carregam significados diferentes para cada história.
Talvez o banal e cotidiano fosse a proposta.
A história que mais me chamou a atenção foi do casal de idosos que percorrem todo trajeto de uma rua resmungando e se alfinetando, típico de quem está casado por bastante tempo, e quando chegam a beira-mar, calam-se por um segundo, admirando a paisagem, seguida por um trilha, adequada à cena romântica, numa fotografia belíssima do dois abraçados, apreciando o mar de forma nostálgica, e quando começamos a nos sentir envolvidos, o recorte é feito pelo som e manobra de um skatista, que quase esbarra no casalzinho. Possui um tom humorado bem jovial, típico de uma leva de diretores ainda desconhecidos (ou não).
Talvez Nova York seja isso, instântanea, recortada, entrelaçada em diversas culturas e histórias.
Mas ainda assim, achei que faltou algo que marcasse a cidade da forma que conhecemos culturalmente, mesmo que precipitada e mesmo sendo suspeita pra falar, já que é uma cidade que não conheço, portanto nem imagino a cara que ela deveria ou deve ter, só sei que prefiro Paris!
Vamos aguardar o projeto "Rio de Janeiro, eu te amo", previsto para ser lançado no Brasil em 2011, que contará com trabalhos dos diretores Fernando Meirelles (Cidade de Deus) e José Padilha (Tropa de Elite).

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