segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

"Golpe baixo" de Peter Segal 2005


Ao zapear pela televisão no domingo, deparei-me com um filme que resolvi assistir pela milésima vez, mas pela primeira vez pensei sobre isso.
Pensei: Como posso assistir este filme de novo? O que há nele que me faz ver novamente?
E se eu estava sonolenta no início do filme, ao final sobrava energia.
Minha cabeça pipocava de ideias para escrever e aqui estou eu.
Muitas vezes ouço que há filmes bons e ruins, mas ao fazer mestrado só consigo pensar que tudo que é bom e ruim somos nós que julgamos. E mais... mesmo um filme sendo tecnicamente ruim (como muitos dos meus prazeres culpados já admitidos), pode ser mediado, gerando uma discussão bem produtiva. Ou seja, não acredito em filme ruim, mas em péssimos mediadores.
E "Golpe baixo" parece este tipo de filme.
Com a receita clássica de comédia, mistura narrativa clássica, happy end e o carismático Adam Sandler como protagonista. É feito para gostarmos. Não há profundidade narrativa ou reflexiva, mas de alguma forma me fez pensar em vários assuntos.
Comecei a reparar como sou (somos) conduzida a torcer pelo time dos criminosos, que na verdade são falsos, pois são apenas atores interpretando criminosos.
Será que eu torceria por criminosos verdadeiros?
Torceria por assassinos, estupradores, ladrões e afins?
Mas o filme me fez perceber uma coisa. Quem disse que é só na cadeia que há criminosos?
Em muitos lares e relações humanas há crimes que não são julgados.
Há muitos criminosos que se julgam de mãos limpas, como percebemos na trama fictícia de "Tropa de Elite 1 e 2". Há os que mandam matar, os que burlam a lei e desviam verba que deveriam ir pra saúde e educação, setores marginalizados que afetam milhares de pessoas, levando à morte e à uma vida sem perspectivas.
Quem são os verdadeiros criminosos?
Os pobres? Os negros? Os injustiçados por uma sociedade capitalista e selvagem?
A plateia de civis é realmente formada somente por pessoas de bem?
O filme passa ingenuamente a mensagem "criminosos também são gente", mas os noticiários do nosso país parecem não entender que esta mensagem é muito mais complexa e importante do que se imagina.
Há algum tempo (2007), postei neste blog palavras revoltadas com a superlotação nos presídios, pois na escala de importância da sociedade, os condenados ficam no final da fila, mas as pessoas parecem esquecer que estes mesmos condenados são humanos e imperfeitos como todos nós e ainda mais importante, não existe prisão perpétua no Brasil, ou seja, uma hora eles saem. Esquecem que estes mesmos condenados serão reintegrados à sociedade, pois merecem a chance de reconstruir e de receber uma punição digna, justa ou eqüivalente ao crime.
Assim como o Zé do morro que se envolveu com tráfico ou morte, merece, o playboyzinho que bebeu e fatalmente matou uma família, também merece.
Mas o que lemos nos jornais são cubículos imundos, com condições precárias de higiene, misturando assassinos cruéis aos pobres ladrões de galinhas. Lemos sobre adolescentes imprudentes, agindo como adultos, sendo libertados, sem qualquer tipo de orientação, por não haver espaço para todos. Vemos constantes fugas, constantes assaltos, mortes, assassinatos e roubos. Vemos IMPUNIDADE.
E pior, vemos verdadeiros criminosos assumirem o governo do país, do Estado, da prefeitura, do condomínio, do mercado, do mundo. Vemos corruptos sentados no dinheiro e fazendo o que bem entendem. Vemos jovens ricos estuprando, socando, agredindo, matando, usando a bebida como fuga e o carro como arma.
Enquanto a sociedade não entender que não adianta marginalizar ainda mais, a violência só vai gerar ainda mais violência.
Em certa ocasião, numa entrevista de tv com promotor de Justiça, ele comentava sobre o caso do ladrão de som que foi espancado por populares. Ele processou os populares. Com razão. Talvez o ladrão nunca tivesse agredido ou matado ninguém, então porque o cidadão que se julga honesto, acredita ter direito em agredir o outro sem ser punido?
O promotor disse que essa atitude tem sido um reflexo de uma sociedade que trata o crime com impunidade e corrupção. As pessoas não acreditam mais nas leis e na polícia, então agem sem lei nenhuma. Mas a verdadeira transformação precisaria vir de medidas administrativas.
Quando a sociedade oferecer condições de trabalho suficientes, de moradia, saúde e educação, talvez o crime diminua. Não é apenas punir e prender, mas prevenir, criando projetos sociais que envolvam jovens e dêem perspectivas de vida diferentes do que os espera no tráfico e em subempregos.
Votando com responsabilidade e sendo alfabetizado politicamente.
Envolvendo-se com decisões e direcionamentos políticos.
Usando menos ignorância e mais inteligência.
Infelizmente sou uma voz baixa na multidão. Uma chata, uma rebelde, uma inconveniente.
Mas ao menos tenho consciência de que se um dia eu sofrer alguma violência, tenho completo envolvimento com ela. Não sou apenas uma vítima, pois todos nós somos culpados e inocentes de alguma forma. Tento fazer a minha parte, através da educação e do cinema, mas como diria minha colega do mestrado, sem o coletivo não há mobilização.
Não habitamos este mundo individualmente, todas as nossas atitudes geram conseqüências aos outros e a nós mesmos. Enquanto continuarmos olhando apenas (friso o apenas) para o próprio umbigo, preocupados apenas com nossas vidas e nossos pequenos anseios, fazendo nossos programinhas e compras desnecessárias, conversando só de coisas banais e excluindo toda e qualquer preocupação, envolvimento, conversa e discussão política, social e econômica, continuaremos sendo mais culpados que vítimas desse sistema podre de corrupção, violência e injustiça.
Inevitavelmente não poderia encerrar este texto sem citar Nietzsche, somos humanos demasiado humanos, somos "além do bem e do mal".

Um comentário:

VALTER disse...

COMO VC MESMA FALOU A RESPEITO DO FILME, SÃO ARTISTAS.
OS BANDIDOS EXISTEM EM TODO LUGAR OS QUE ROUBAM MAS FAZ,O ENGRAÇADO DA PERIFERIA QUE FAZ PIADINHAS QUANDO É PRESO E OS QUE NÃO TEM NADA A PERDER COMO ELES MESMOS DIZEM;INFELISMENTE A MAIORIA DA POPULAÇAO SE ACOMODANÃO NÃO CRIA OPORTUNIDADES A SI MESMO,É DIFICIL MAS ELA EXISTE SIM O GOVERNO TIRA MAS OFERECE UM POUCO E ESTE POUCO NÃO É APROVEITADO,É MAIS FACIL ESPERAR DOQUE IR ATRAZ DO SEU,O BRASILEIRO FICA DE OLHO NO QUE O OUTRO CONQUISTOU MAS ESQUECE QUE PARA CONQUISTAR ALGO TAMBEM TEM QUE TRABALHAR... MUITOS ESTÃO ALI PRESOS PORQUE NAO QUEREM NADA ALEM DE MOLEZA.