terça-feira, 29 de novembro de 2011

A Saga Crepúsculo - o amor proibido

Há quase 2 anos conheci a saga Crepúsculo e ela ainda provoca em mim um sentimento de cumplicidade e anestesia. Em 2010 escrevi um texto apaixonado sobre a minha relação íntima com o filme e agora relendo, percebo que não tiraria uma vírgula do que 'desabafei'.

É comum este tipo de filme e livro, considerado blockbuster (cinemão, cinema comercial e coisa do tipo), preocupado em agradar e entreter o público (da massa) ao qual se destina, ser duramente criticado por quem não estabelece nenhum tipo de ligação sensível (os que se consideram cults ou 'verdadeiros' cinéfilos - uma grande besteira!). Sendo assim, se qualquer filme for analisado tendo um outro cinema em mente, não restará nada para falar da Saga Crepúsculo, que é tecnicamente e narrativamente fraco, não discordo. Porém, se houver sensiblidade o suficiente, é possível ver além e destacar 'pingos de singularidade' num filme que se mostra apaixonante para quem gosta.

Jamais fiz uma análise mais detalhada por escrito de toda a saga (livros e filmes) e acredito que este momento chegou. Assumo meu gosto pela Saga Crepúsculo como um prazer culpado ('O clube do filme' - David Gilmour) e hoje resolvi escrever e compartilhar minha visão sobre toda a saga, utilizando minha sensibilidade e ligação afetiva com o filme. Digo isto porque o filme sozinho não provoca nenhum tipo de reflexão ou aprofundamento sobre alguma questão subjetiva, sou eu quem dou sentido a ele, como fazemos com qualquer outro filme que nos toca de alguma forma (positiva ou negativamente). Se analisarmos apenas a superfície da narrativa veremos que é uma história de amor entre personagens estranhos e incomuns. Nenhuma novidade!

Considero essa ligação forte e por isso uma relação de punctum (Roland Barthes) onde nenhuma explicação lógica seria possível. Na tentativa de entender, sem jamais encontrar a conexão inconsciente com a história, compartilho aqui as impressões de toda saga, Iniciando com "Crepúsculo" e finalizando com foco especial no filme mais recente "Amanhecer - Parte 1".

Uma pequena análise sobre os títulos:
Crepúsculo é o momento em que o céu se torna gradiente (mistura de cores) no nascer ou pôr-do-sol, que poderíamos entender na história como o contraste entre mortalidade e imortalidade de uma humana e um vampiro (Bella Swan e Edward Cullen), que ao se apaixonar, ultrapassam as fronteiras, regras e limites de seus respectivos mundos. Essa mistura de sentimentos representa o amor proibido e na capa do livro, a mão que segura uma maçã fortalece a ideia de desejo proibido (maçã na história de Eva e Adão).

Lua Nova é fase onde a Lua não pode ser vista a olho nu, mas está lá! E Edward ama tanto a Bella, que por considerar-se um risco e para protegê-la, decide se afastar, o que causa ainda mais sofrimento a ela. Neste intervalo, Bella entra em depressão e tenta preenchero vazio que sente com a companhia de Jacob. Ainda que ele seja apaixonado por ela,  Bella não esquece Edward e na tentativa de atraí-lo se coloca em situações de risco, apegando-se a adrenalina e a dor da saudade, que é tudo que lhe resta.

Eclipse é quando um objeto celeste se sobrepõe temporariamente ao outro. Seria o amor por Edward igual ao de Jacob? Bella estaria indecisa? Ainda que um amor se sobreponha ao outro, é sentimento passageiro, pois Bella sabe exatamente de quem gosta, de quem permanece em seu coração.

Amanhecer é quando o sol aparece no horizonte, sendo um acontecimento diário (eterno?). O casamento é a celebração de uma união, e se entre imortais (vampiros), é a celebração de uma união eterna. É uma nova vida de cumplicidade e companherismo, que fará o casal amadurecer e aprender a enfrenter diariamente a vida a dois.

Irei recontar a história sob a minha perspectiva, detendo-me nos detalhes que acho relevantes. 


Crepúsculo - o amor proibido!

Bella Swan é uma jovem comum, insegura, que decide morar com o pai Charlie (policial) para dar mais liberdade a sua mãe (Renée) em seu segundo casamento. Tão fechada quanto o pai e com poucos amigos, não segue os padrões de beleza comuns de sua geração, mas por ser nova numa cidade pequena e sempre nublada, acaba chamando a atenção dos garotos, ainda que se sinta constrangida com esta atenção exagerada. 

Diante das novas amizades, ela observa um grupo de jovens excessivamente bonitos, bem vestidos e isolados dos outros alunos: a família Cullen (os casais Alice e Jasper; Rosalie e Emmet; e o solitário Edward). Edward Cullen chama sua atenção, que num primeiro contato (aula de biologia) a trata com desprezo. Isso a deixa frustrada e ela se encoraja em confrontá-lo, porém ele não aparece mais na escola.

Quando os dois tem seu segundo contato, ele age completamente diferente. É simpático, atencioso e interessado em Bella. Ela fica desconfiada, mas por se sentir atraída se aproxima dele. Rapidamente Edward se torna presente em sua vida e até possessivo. Bella se incomoda ao mesmo tempo que gosta.

Em certa ocasião, Bella quase é vítima de um acidente de carro na escola, porém Edward a protege. No hospital, ela conhece o pai de Edward, Carlisle e percebe que há algo de estranho na família Cullen e em Edward. Bella não entende como alguém tão bonito poderia notá-la e ao investigar sua 'estranheza' (pele fria, olhos caramelo, força incomum) desconfia que ele seja um vampiro e ele confirma sua suspeita.

Ainda assim, Bella continua se sentindo atraída e aceita o amor proibido. Edward tenta desencorajá-la por ter medo de não controlar seus instintos de vampiro (morder e beber seu sangue - ou sugar sua vida e mortalidade), mas fraqueja porque se entrega ao amor e desejo que sente por Bella. Ela o intriga, porque ele tem o dom de 'ouvir' os pensamentos dos outros, menos os de Bella. Para ele, ela é imprevisível e ele nunca saberá o que de fato se passa na sua cabeça. Essa sensação de insegurança e incerteza seduzem Edward, que luta contra o desejo, metáfora da puberdade, talvez - descoberta do amor, atração e tensão sexual, desejo, descontrole emocional

Em paralelo a tudo isso, Bella faz amizade com Jacob, um jovem de origem indígena, nativo da cidade, que não gosta da família Cullen e conta uma lenda sobre lobisomens e vampiros para Bella. Além disso, estranhos ataques aos moradores acontecem na cidade, deixando a família Cullen atenta aos acontecimentos.

Bella e Edward começam a namorar e esse amor proibido, ainda que apoiado pela família Cullen, que são vampiros do bem e não bebem sangue humano (apenas de animais), coloca a vida de Bella em risco ao se deparar com um clã de vampiros visitantes, sedentos por sangue humano, caracterizado pelos olhos vermelhos (o casal Victoria e James; e Laurent). O cheiro de Bella e a superproteção de Edward instigam James ao desafio de caçá-la e a família Cullen se une para protegê-la. Diferente do clã, os Cullen são vampiros do bem, tem olhos caramelo quando saciados da fome (ou os olhos ficam pretos). 

James é morto e Edward consegue enfrentar o instinto de vampiro para protegê-la. Com isto, Bella decide que quer se tornar vampira para ficar eternamente com Edward, jamais envelhecer e não correr mais riscos. Porém Edward não gosta de ser vampiro e se considera um ser de natureza cruel, já que acredita na alma humana. Os dois suspendem a conversa de Bella se tornar vampira por um tempo, enquanto Victoria, parceira de James decide vingá-lo.

São muitos detalhes para descrever, mas as características principais do primeiro livro e filme são:

-O amor proibido entre um ser mortal e imortal - bem e mal. Porém todo humano é do bem e todo imortal é do mal? A história dos dois vai revelar a fragilidade dessa relação e o paradoxo humano (que é bom E mau!). Além dos contrastes entre a mortalidade e imortalidade, que ameaça a união dos dois. Bella pode envelhecer ou morrer, mostrando-se extremamente frágil. Edward pode se descontrolar e ser incapaz de protegê-la.

-O desejo e tensão sexual entre os dois, típico da adolescência (durante o filme só rolam dois beijos - tensão sexual presente também no livro que seduz o leitor/expectador);


-Edward representa os valores da religião cristã mormon (religião da autora), que acredita na alma humana, luta contra o mal presente em si mesmo e no outro, acredita no casamento e no sexo somente depois do casamento, acredita na instituição da família e no respeito e cortejo à mulher.

-Além disso, a autonomia e iniciativas de Bella demonstram uma mulher moderna, dona do próprio nariz.

Assim acredito que a autora Stephenie Meyer conciliou a ideia que tem de ser mulher hoje com os valores da sua religião cristã mormon numa história simbólica e paradoxal, como a vida humana é.

É pelo ponto de vista de Bella Swan que conhecemos a história, destinado ao público feminino, que facilmente irá se identificar com a protagonista e com suas angústias, inseguranças, emoções e sentimentos. A sensibilidade e romantismo são típicos da mulher e a história de Meyer une as duas coisas com precisão.

No filme, o ponto de vista é onisciente, na tentativa de ampliar seu público, mesclando o romance com o suspense e ação dos ataques do clã de vampiros visitantes.

Os elementos que atraem o espectador são justamente o amor proibido (Romeu e Julieta), a busca pela imortalidade (eterna juventude e eterno amor), a redenção e o amor inconseqüente, além do suspense e tensão criados pela ameaça a vida de Bella e do amor dos dois. (Sem Bella, não há romance!) Quem não torceria pelos dois juntos e não iria querer descobrir o que irá acontecer?! 

Nenhum comentário: