quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Filmes do mês: dezembro

São atualizados no decorrer do mês.

09T-"Você vai conhecer o homem dos seus sonhos" de Woody Allen 2010 (3)
08T-"A mentira" de Will Gluck 2010 (3)
07T-"Motoqueiros selvagens" de Walt Becker 2007 (2)
06C-"Os muppets" de James Bobin 2011 (2)
05T-"O casamento de Rachel" de Jonathan Demme 2010 (4)
04T-"Vermelho como o céu" de Cristiano Bortone 2006 (4)
03T-"Matemática do amor" de Marilyn Agrelo 2009 (2)
02T-"Atividade paranormal 2" de Tod Williams 2010 (2)
01T-"Os incompreendidos" de François Truffaut 1959 (4)

*Filmes Revistos 
Organização: Ordem crescente - em números.
Nome do filme + diretor + ano.
Códigos: B (baixado), C (cinema), D (dvd acervo pessoal), L (locadora), T (tv).

Notas:
(0) dispensável
(1) ruim ou fraco
(2) razoável
(3) bom - técnica ou emocionalmente
(4) muito bom - rolou um punctum
(5) excelente - marcou minha vida
(P) prazer culpado (tecnicamente ruim, mas adorei)

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Discutir cinema é mais do que ver filmes!


Todo mundo acha muito legal quando falo que sou formada em cinema, mas todo mundo também teima em discutir cinema (filmes) comigo só porque assiste filmes (ou 'muitos' filmes!). Adoro discussão, com qualquer pessoa em qualquer nível de saber, já que nossos saberes são apenas diferentes (Paulo Freire), mas me irrito com a falsa impressão que as pessoas tem de entenderem cinema só porque assistem filmes (qualquer tipo que seja - cult, comercial, arte...). 

E FAZER cinema não depende de estudo teórico, só praticando já é possível fazer (o que vai exigir algum conhecimento técnico), mas se quiser DISCUTIR e PENSAR o cinema, é preciso muito mais do que apenas ver e fazer filmes, é preciso ESTUDAR cinema. (e não me refiro a uma faculdade, que facilita o caminho, mas conhecer tudo que é relacionado ao cinema, toda teoria, história, estabelecendo relações com o passado e o presente).

Detalhe: conhecer o cinema pode qualificar ainda mais o fazer, já que é bem comum algumas pessoas acharem que estão criando algo novo, quando algum cineasta consagrado já foi pioneiro da técnica, experiência e invenção (Henry Jenkins)! Isso vale pra filmes, que as pessoas acham inédito e original, mas nem imaginam o quão cheio de referências ao passado ele tem e se apresenta como um grande mosaico de velhas ideias (onde reside sua singularidade - ser um mosaico)! Não é necessário saber disso tudo para apreciar, curtir e conversar um pouco sobre cinema, mas insistir em discutir com alguém que conheça tudo isso é problemático!

Vamos fazer uma comparação?!

Se eu assistir jogos de futebol e só isso, já entendo de futebol e posso debater sobre ele com qualquer pessoa em qualquer lugar? Ou preciso conhecer as regras, técnicas, história, times, lógica dos campeonatos, etc e tal para ter um repertório mais completo e entrar numa discussão sem ficar na superfície da minha opinião?!

Se eu assistir documentários científicos ou ler sobre corpo humano, doenças, curas e afins já sou completamente entendido de medicina? Ou preciso estudar, conhecer bem o corpo, ter experiência prática, fazer alguma especialização e legalmente cursar uma faculdade de medicina para poder exercê-la? (existe medicina alternativa - mas qualquer pessoa que exerça e entende, conhece!)

Se eu souber usar coreldraw e photoshop e criar coisas nesses programas, já sou um designer? Ou preciso estudar as regras da percepção visual, as leis da gestalt, estudar o que é briefing e seu público-alvo e etc e tal?

Portanto, estudar cinema não é só aprender como fazer, mas como pensar, como analisar, criticar, enxergar além, conhecer sua história, suas teorias e técnicas, e identificá-las nas produções fílmicas e audiovisuais, tendo fundamentação e conhecimento teórico para emitir opinião e discutir sobre. E no meu caso, com a prática, ainda sei discutir como ensinar cinema!

Com isto não digo que estou completa, acabada, pronta e sou dona da razão diante de um leigo, mas que é preciso considerar a diferença de repertório e que quanto menor ele for, mais limitada será a discussão. Ninguém detém todo conhecimento sobre nada (Pierre Levy). E cada pessoa imprime seus valores, crenças, sentidos e saberes ao se relacionar com o mundo (Roland Barthes) e com o que faz parte dele, seja livro, pessoa ou um filme. Então não há apenas uma forma de ver e sentir o mundo, mas múltiplas, sem haver definição do que é certo e errado OU bom e ruim. Tudo vale! Mas numa discussão, os argumentos não são infinitos. Quanto mais argumentos eu tiver, mais sustentarei minha opinião e relação com determinada obra fílmica, por exemplo. Para que outras pessoas consigam sustentar suas opiniões, também precisam ampliar seus argumentos e isso se faz estudando e conhecendo o que se está discutindo.

Considerando o que falei acima, eu não desmereço nenhuma opinião sobre determinado filme, seja superficial ou intensa, mas obviamente também terei a minha própria e usarei meus argumentos para contrapor a opinião do outro ou defender a minha. E se alguém quiser contrapô-la, terá que apresentar argumentos o suficiente para tal atitude ou só restará ignorância. Com isto, não digo que é uma batalha entre certo e errado, bom ou ruim, mas entre pontos de vista. Quando os argumentos se esgotam é porque a pessoa não detém o conhecimento suficiente para continuar se defendendo, apenas isso! E qual a atitude mais natural numa discussão assim? Desistir!

Nossos gostos são construídos socialmente e nem sempre temos consciência disso. É preciso estudar muito para entender a profundidade dessa colocação, mas há quem insista em acreditar que seu gosto é melhor que o dos outros, que tem liberdade de construí-lo e total domínio sobre ele, quando somos mediados o tempo todo por todo mundo. Não somos livres, apenas buscamos e tentamos ser!  

Quanto mais estudamos e refletimos sobre nossas prisões, mais nos libertamos daquilo que nos prende, mas ainda continuamos presos, menos que muitos outros, às vezes cegos, surdos e mudos diante de suas prisões. Então o primeiro passo é buscar se libertar e só se faz isso, estudando e refletindo muito, eternamente. É preciso ver, ouvir, falar e sentir!

Por isso, para VOCÊ que teima em insistir numa discussão, neste caso sobre cinema e filmes, sem considerar outras possibilidades e pontos de vista, rotulando as coisas como boas e ruins, certas e erradas, aprisionado em preconceitos, eu recomendo ESTUDE MAIS!!

Mesmo no lixo é possível ver e fazer beleza e arte! Basta conhecer o trabalho de Vik Muniz para repensar no que se julga 'lixo'. Então, DESCONFIE da sua opinião ao ver um filme e achar que é LIXO (ruim, tolo, péssimo), se conseguir ver ALÉM do que está na superfície, vai perceber que lixo nem existe, que tudo carrega alguma possibilidade e no mais superficial e comercial dos filmes, é possível ver beleza e arte!

E mais, desconfie até da sua desconfiança! E de cada palavra que eu disse e disser aqui!
Se alguém não te falou, certezas e verdades não existem! Tudo é relativo! ;o)