sábado, 7 de janeiro de 2012

"Amor por contrato" de Derrick Borte 2010


Se depender da capa, do título e da sinopse, o filme parece não ter muito potencial, mas se engana aquele que pensa que o filme se trata apenas de uma história de amor ou coisa do tipo! Talvez o diretor (estreante) tenha tentado mesclar um assunto interessante com uma superficial história de amor, mas ignorando o final clichê, é um filme que vale a pena conhecer!

Estas quatro pessoas da foto (Kate - mãe; Steve - pai; Jenn - filha e Mick - filho) são atores contratados pela empresa 'LifeImage' e formam uma família 'perfeita' que se muda para um bairro nobre dos EUA e estimulam todos os que conhecem a terem seu estilo de vida: roupas, carros, cosméticos, artigos esportivos, hábitos, vídeogames, celulares, etc. Os quatro são pagos para 'vender' seu estilo de vida, e todo mês sua supervisora aparece para conferir o crescimento das vendas.

O problema é que ninguém naquele bairro sabe que eles não são realmente uma família e aí entra a polêmica da publicidade 'camuflada', completamente atual e discutida na nossa sociedade. Inclusive várias marcas conhecidas (lacoste, tommy, etc) aparecem no filme e me pergunto se isso também não é uma publicidade camuflada para nós, consumidores-espectadores.

Ontem mesmo eu estava lendo uma matéria na revista "Mundo Estranho" sobre os 'segredos' da publicidade e curiosamente em uma das páginas se falava sobre a publicidade do futuro, onde pessoas serão contratadas para disseminar produtos e serviços em círculos sociais específicos. Segundo a revista, na Suécia (e outros lugares) já existem 'atores' contratados em lojas de roupas e supermercados para elogiar quando um cliente prova uma roupa, ou circular com os carrinhos cheios de comprar para estimular o consumidor.

Ou seja, não demorará muito para realmente existir uma 'família' que é paga para lançar novos produtos e serviços e convencer as pessoas de seu círculo social a fazerem isso também! Na verdade, indiretamente já fazemos isso, ao circular com as sacolas da loja, exibir roupas e novas aquisições, elogiar um produto, só que sem receber nada por isso. O famoso 'boca a boca'!!

Como no filme, quando os produtos são bons, fazer publicidade 'camuflada' não parece prejudicial, afinal ela não 'seria' enganosa, porém as coisas começam a sair do controle e de um lugar 'seguro', quando o consumo de 'álcool' (novidade no mercado) numa festinha entre os amigos de Mick (filho) é investigado pela polícia, após uma jovem (sua amiga) dirigir embriagada e se envolver numa colisão. Mick se defende para os pais-colegas, "mas quem mais iria beber essa droga?!" O novo drink é um ponche de pacotinho com 70% de álcool. Mick tem razão! Em festas luxuosas é que não seria!!

Talvez seja esse o preço de lançar um produto para determinando ou específico público-alvo, sem prever as conseqüências de um público consumidor alternativo. Por exemplo, como evitar que a criança ou adolescente não seja um consumidor precoce de álcool, diante dos constantes comerciais divertidos e atrativos de cerveja?!

E se antes a publicidade 'camuflada' parecia inofensiva, Steve percebe o erro que cometeu ao se aproximar do vizinho Jerry e instigá-lo a ser um consumidor assíduo. O problema não é só o consumo excessivo e desnecessário, mas o desejo de consumir, sem ter da onde bancar! E isso nos leva às populares e cada vez mais frequentes dívidas, aquisições de múltiplos cartões de crédito e às vidas de aparência, que camuflam a falência e problemas familiares sérios. 'Tudo se resolve com presentes e agrados!' Péssimo conselho!

Como eu disse, se excluírmos o romance superficial entre Kate e Steve, o final interessante é justamente o infeliz! Publicidade camuflada é prejudicial sim! Vender 'estilos de vida' aparentemente perfeitos como se fossem verdadeiros é prejudicial sim! E uma legalização severa em cima da publicidade e propaganda são realmente necessários, num mundo globalizado, cada vez mais consumistas e 'cego' pela aparência de felicidade!!

Que este filme possa servir para abrir os olhos ou fazer pensar sobre o assunto, ainda que não tenha a profundidade necessária para tal, mas que pode ser tranquilamente mediado por alguém preparado e com uma visão crítica sobre o assunto! Recomendo super! 

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