quarta-feira, 28 de março de 2012

"Jogos Vorazes" de Gary Ross 2012


Impossível assistir este filme e não lembrar do Big Brother e dos inúmeros reality shows que se tornaram grandes fenômenos e 'febre' de audiência em todo o mundo, desde a década de 70. A velha receita da antigüidade do 'panes e cirque' (pão e circo) foi atualizada pelos novos meios de comunicação, através da televisão e computador.

Aparentemente inofensivos, a atração humana pelo reality show já poderia ser justificada pela curiosidade científica sobre o condicionamento humano em pesquisas iniciadas na Psicologia, em estudos sobre comportamento e mente humana, a partir de estímulos positivos e negativos, que resultam em determinadas ações. Como agimos e pensamos diante de determinados estímulos?! E como a plateia reage diante destas ações?!

Esta combinação de controle, curiosidade e poder do reality show, parece ser uma boa receita de sucesso televisivo para um público sedento por entretenimento e efeitos 'anéstesicos', típico da cultura de massa. E um filme como "Jogos Vorazes", que aborda este assunto de forma implícita, sem mediação ou preparo do 'olhar', talvez seja 'lido' como pura ação, fiel à narrativa clássica, com um esperado 'happy end'. 

Porém, com a devida reflexão, podemos tomá-lo como ponto de partida para estabelecer relações diversas.

"Jogos Vorazes" é uma adaptação fílmica de um romance de ficção científica (que eu ainda não li) para jovens e adultos, originalmente publicado em 2008, escrito pela 'norte-americana' Suzanne Collins.

A trama se passa num mundo pós-apocalíptico, caracterizado pela miséria, fome, guerra e nova distribuição de poder, onde a jovem protagonista Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence), vive num dos 12 distritos do país Panem (referência à expressão Pane&Cirque), cujo poder está centralizado na Capital, e todo ano, 2 jovens de cada um desses distritos, entre 12 e 18 anos, menino e menina, são sorteados e oferecidos como tributo, para ingressar num programa anual de televisão, chamado Jogos Vorazes, onde precisam sobreviver num ambiente hostil e lutar entre si até a morte, quando restar apenas um vencedor. Katniss se torna voluntária dos jogos para proteger a irmã caçula.

Esta estrutura narrativa poderia funcionar como uma crítica e alegoria  da nossa sociedade 'do espetáculo' atual, onde o entretenimento é utilizado para distrair e controlar a 'massa', enquanto outros mecanismos perpetuam uma organização social desigual e injusta. Os distritos no filme representam a classe operária, que é essencial para sustentar a nação, através de seu trabalho 'braçal' e produtivo (grãos, energia, construção, etc), mas é aprisionada e condicionada a aceitar ordens e inscrever suas crianças no reality show, em troca de comida e sobrevivência. 

Crianças e jovens, ora assustados, ora corajosos, 'jogados' numa competição que não querem (ou querem) fazer parte, para que a ordem reine entre os povos. Seres humanos sendo usados como moeda de troca ou produtos de consumo, coroando o consumismo extremo, onde 'o direito à vida' é completamente desvalorizado e desconsiderado.

Seria também uma alegoria da educação atual?! Treinar crianças e jovens para a 'selva' do mercado de trabalho, transformando-os em trabalhadores (lutadores, vencedores) e não em empreendores e pessoas felizes. Transformando-os em força de trabalho, mas não em intelectuais, filósofos e pensadores, que possam refletir sobre a própria condição e superá-la!


Katniss Everdeen representa risco à Capital, pois apresenta a coragem de uma guerrilheira, e a ousadia e generosidade de uma líder nata, sedenta por transformação. Não concorda com o sistema, mas encontra uma forma de confrontá-lo, sem ser eliminada por ele. Na competição, ela luta para sobreviver, sem perder a dignidade e humanidade.

Na trajetória de Katniss, conhecemos os bastidores do programa, através da equipe de preparação da dupla do distrito 12, que precisa impressionar pela aparência e postura, patrocinadores interessados e um público fiel e generoso. 

A futilidade desse público (nós, quando espectadores 'cegos e surdos') é bem representada pelas roupas, acessórios, cabelos e maquiagens coloridas, que contrastam com as roupas simples e básicas dos povos dos distritos, e 'satiziram' o excessivo culto à beleza e aparência de nossa sociedade atual.


Somente alguém vestindo algo tão 'supéfluo' poderia se entreter com um programa como "Jogos Vorazes" e desconsiderar a crueldade imposta por quem governa seu país. Somente alguém tão 'cego, surdo e mudo' poderia divertir-se com doces, decoração e roupas, e não se importar com a real preocupação dos jovens que foram forçados a lutar entre si e arriscar a própria vida por tão pouco.
 
 

O apresentador de "Jogos Vorazes" lembra nosso 'querido' Pedro Bial e poderia representar todas as celebridades, super valorizadas por um público fútil, que não enxerga sua condição real e toda injustiça a sua volta. Nada faz para combatê-la, nem como público, nem como vítima. A desigualdade social, entre classes dominantes e dominadas, entre aqueles que 'supervivem' e os que sobrevivem permanece intacta. 

Crianças e jovens anônimos, que passam a ser cultuados e admirados como se fossem uma bolsa Prada, um enorme iate, uma linda Ferrari, um belíssimo par de brincos. Crianças e jovens que se tornam produtos de entretenimento, como os reais participantes dos nossos reality shows, que nem percebem os objetos que são, totalmente descartáveis e substituíveis.

Se sofrem de amor, é ainda melhor, pois até o 'ideal do amor' se torna um produto a ser comercializado. (Com sexo, então!) Quanto mais sofrimento, mais 'generosidade' e 'caridade', pois é bom se 'sentir' generoso e humano, ao dar uma nova chance, ao torcer, chorar e sorrir com o sofrimento alheio, seja ele de personagens de um filme, livro ou teatro, seja um personagem de si mesmo, frágil e totalmente humano.

"Jogos Vorazes" é um ponto de partida para discutir a sociedade do espetáculo, do consumismo excessivo, da maneira 'alheia' de lidar com a própria condição humana atual. é um 'tapa na cara' de quem é 'público' e de quem se recusa a ser.

O problema não está em quem consome e no que consome, mas no porquê consome. É por necessidade?! Se eu admito consumir 'entretenimento' nos dias em que quero esvaziar minha mente, 'até' tudo bem. O problema está em querer esvaziar a mente o tempo todo, sem nem se dar conta disso, usando o entretenimento como um vício, como uma droga, um entorpecente, que suspende a 'realidade' e nos mantém sempre 'anestesiados' de tudo e todos! E pior, sendo explorado e explorando os outros, enquanto isso.

"A pele que habito" de Pedro Almodóvar 2011


Vendo esse filme, fiquei imaginando se um dia o Almodóvar acordou, sentou casualmente na mesa do café da manhã e ao abrir o jornal matutino, notou a página de desaparecidos e teve uma ideia!

O que teria acontecido com um jovem, chamado Vicente, desaparecido há anos?!

Talvez um cirurgião plástico obsessivo (Antonio Banderas) tenha sequestrado esse jovem para vingar a filha falecida, doente mental que foi abusada sexualmente pelo 'atrapalhado' Vicente tempos atrás. E talvez esse médico tenha usado Vicente como cobaia para testar seus experimentos científicos, como a transgênese, ainda polêmica e proibida, que poderia ter salvo sua esposa queimada e suicida anos atrás. E talvez a melhor maneira de vingar sua filha, seria transformando sexualmente o estuprador, através de uma vaginoplastia. Afinal, o prazer de alguém que estupra não está no sexo, mas no poder e controle sobre a vítima. Porém, seria Vicente alguém tão inescrupuloso?! Ou seria o médico, um verdadeiro psicótico adormecido?

Diferente do que imaginei no início do texto (ou não), o filme "A pele que habito" é baseado no livro "Mygale", de Thierry Jonquet. Almodóvar queria criar uma situação-limite entre dois personagens numa trama de horror, 'sem gritos ou sustos'. Um terror psicológico, que deixaria qualquer espectador 'meio' chocado com as descobertas gradativas da narrativa. Sem heróis ou vilões, mas personagens 'imperfeitamente' humanos!

Com muito sarcasmo e realismo, Almodóvar toca em assuntos delicados como a transexualidade e a transgênese, sem nos poupar da 'possível' crueldade humana. Através dos personagens Vicente e Vera, podemos nos questionar: O que define a sexualidade de uma pessoa?! A personalidade ou a 'pele' (corpo) que ela habita?

quinta-feira, 15 de março de 2012

"Project 140" de Frank Kelly 2010


"Project 140"  é um documentário 'colaborativo' inspirado pelo twitter, onde 140 cinegrafistas de 140 lugares diferentes (23 países de 5 continentes, incluindo 4 brasileiros) registraram 140 segundos de imagens simultâneas via web, resultado numa montagem visual de 80 minutos, lembrando bastante a temática do projeto "Life in a day" de Kevin Macdonald e produzido por Ridley Scott e exibido em 2011

A ideia de Frank foi experimentar uma nova forma de fazer cinema, integrando a linguagem frágil e efêmera da comunicação virtual com a produção de imagens instântaneas, típico do twitter. Ao invés de textos, imagens!!

Essa proposta simpatiza tranquilamente com os pensamentos de Henry Jenkins, que afirma que vivemos numa cultura da convergência, onde todos estamo inseridos numa grande comunidade de produção (coletiva) do conhecimento e também de cultura!

O diretor Frank Kelly disponibilizou seu filme aqui neste site! Então, bora assistir?! 

Obs.: Assistirei em breve e posteriormente registrarei aqui minhas impressões!

Veja aqui o trailer:


Wrecking Crew Orchestra e a arte-mídia!

 
                                        “A arte sempre foi produzida com os meios de seu tempo.”
                                                                       Arlindo Machado

Quando assisti esta apresentação do Wrecking Crew Orchestra fiquei impressionada e inspirada. Procurei algum texto que pudesse descrever minhas inquietações, mas nada encontrei.Seria algo muito recente e pouco explorado?

Este espetáculo do grupo japonês parece integrar a dança com a linguagem do cinema, já que a manipulação das luzes, criando rápidos 'fotogramas' com a coreografia precisa dos corpos, explora a ilusão de movimento, através do fênomeno da 'persistência da visão', essencial na história e desenvolvimento da linguagem do cinema e da animação, através da técnica em stop motion.

Mas além disso, os movimentos coreografados lembram os golpes e lutas dos jogos de vídeogames, numa sincronia psicodélica de animações e grafismos. A performance dos dançarinos também lembra o filme "Tron" de Joseph Kosinski, 2010, que em sua estética "utiliza elementos dos computadores e videogames de sua época e refere-se à natureza matemática e eletrônica dos ambientes virtuais". (FIGUEIREDO, 2011)

Arlindo Machado em seu livro "Arte-mídia" (2007, p.10), diz que a arte é um processo de constante mutação e no contexto atual, o conceito e a prática da arte, tornou-se uma discussão bastante complexa. Para ele, não faria sentido os artistas do nosso tempo, recusarem o vídeo, o computador, a Internet, os programas de modelação, processamento e edição de imagem, já que toda arte é justamente feita com os meios de seu tempo.

Neste caso, a integração entre dança & tecnologia, na essência de sua linguagem, parecem ser um belo exemplo do que ele chama de arte-mídia, que seria uma forma de expressão artística, que se “apropria de recursos tecnológicos das mídias e da indústria de entretenimento em geral” para propor alternativas diferentes daquelas apresentadas nos veículos de comunicação.

Assim como o cinema e outras experiências audiovisuais tem buscado alternativas de lidar e se relacionar com os atuais ambientes virtuais, a dança parece ser uma outra alternativa artística de se inserir nesta busca pelo novo e diferente!

Referências


FIGUEIREDO, Carolina. Tron: uma representação pioneira do ciberespaço. Disponível aqui. Acesso em: março 2012.

MACHADO, Arlindo. Arte-mídia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007.

"Esboços de Frank Gehry" de Sydney Pollack 2005


Este documentário foi exibido recentemente na semana de atividades do PPGE - UFSC , com a presença da Profª Dra. Marisa Vorraber Costa para discutir a relação 'cultura e pedagogia' e o papel do pesquisador.

Frank Gehry é um arquiteto contemporâneo, que escolheu o amigo Pollack, que não entendia nada de arquitetura e documentário, para contar um pouco sobre a vida e trabalho desse artista fantástico que não entendia nada de cinema. 

De forma clássica, Pollack consegue reunir em imagens, depoimentos, entrevistas, montagem e uma divertida trilha sonora, um pouco da vida de Gehry e seu processo (fantástico) de criação.

Museu Guggenheim Bilbao, em Bilbao, Espanha

A importância de Gehry para esse período de reflexão sobre a pós-modernidade, está na relação das suas obras arquitetônicas com as tecnologias atuais, numa espécie de simbiose beleza&tecnologia, onde elas só poderiam existir através do computador e seus cálculos precisos. Gehry confronta as regras e 'verdades absolutas' da arquitetura com suas criações exóticas, caóticas, orgânicas, narrativas, que desafiam as leis da física.

A partir do documentário, podemos perceber que Gehry sempre teve uma relação próxima com a arte já na infância, onde sua avó sentava com ele e passavam tardes criando cidades e construções com simples blocos de madeira. Foi essa experiência marcante que influenciou sua escolha profissional. De alguma maneira, quando jovem, ao pensar sobre o que queria fazer da vida, ele se lembrava dos blocos de madeira e das tardes com a avó.

Ele também gostava de desenhar com seu pai e um desses desenhos foi elogiado pelo professor e valorizado pela mãe, que acreditavam que um dia ele seria um grande 'arquiteto'. Dito e feito!

E antes de fazer arquitetura, Gehry fez um curso de cerâmica e já nessa experiência se divertia com as formas imprevisíveis que suas criações em argila ganhavam ao sairem do forno. "Uau! Que beleza! Eu fiz isso?!" 
 

Gehry sempre teve uma relação de medo e fascínio por suas obras. São como filhos, que nascem para o mundo e tem vida própria. Aqui lembrei de Barthes e seu texto "A morte do autor", pois nossas criações deixam de ser nossa ao serem compartilhadas com o 'mundo'. Ganham vida e oferecem múltiplas possibilidades de relações e conexões.

Marisa relacionou este medo e fascínio com as pesquisas que fazemos na pós-graduação. Diz que nós 'inventamos e criamos' os problemas que tratamos em nossos trabalhos, eles não existem e apenas os pescamos, mas são criados por nós. Talvez seria melhor dizer que os identificamos num mundo posto, onde estabelecemos relações e conexões. Marisa diz que pesquisa requer paixão, fascínio pelo processo. Somos apaixonados por ela, ou não conseguimos seguir adiante. "Sem tesão, não há solução". 

Somos pesquisadores-artistas, como Gehry, que trabalha com paixão, teme a rejeição, mas segue em frente, diante de críticas, desafios e problemas. 

Assim como Gehry, nós pesquisadores também nos sentimos confusos, perdidos, com medo de não saber o que fazer e por onde começar. O arquiteto diz que isso é apavorante, mas que criar é assumir riscos.

Em certo momento do documentário observamos Gehry e sua equipe criarem uma nova obra. E para ele há o momento de escuta, de silêncio, de observar e buscar em palavras suas inquietações. "Não sei ainda do que não gosto, mas não gosto."

Em relação a sua profissão, Gehry acredita que se uma pessoa tem uma ideia, porque não experimentar? Ele vive o momento, aproveita as ideias dos outros, relaciona qualquer coisa (moda, pintura, escultura, objeto, desejo, história) e isso o inspira a criar algo novo. Ele diz que é quase mágico e isso me fez pensar sobre o 'punctum' de Barthes. O importante exercício de refletir sobre o que nos toca em relação ao outro, seja pessoa, objeto, artefato, som, filme, etc.Gehry diz que 'todo lugar pode servir de inspiração'.


Gehry fala muito sobre a diferença de ser jovem, cheio de sonhos e anseios, e da experiência de envelhecer e perceber que o que fazemos não se reflete no agora e que o trabalho em equipe é de extrema importância. Ele diz que a perfeição não existe ou não pode ser alcançada. Com o tempo, a frustração diminui e relaxar diante da imperfeição, fica mais fácil.

Em sua arquitetura, Gehry procura respeitar o outro e talvez por isso crie coisas tão caóticas. Suas distorções possibilitam que um prédio velho não seja ofuscado, que a vista do mar não seja exclusiva, que as regras possam ser quebradas e as pessoas possam interagir com suas criações, conectarem-se com elas.

Em certo momento do filme compreendemos, assim como diz Tom Wolfe (A palavra pintada), que diante da beleza e inovação de suas obras, teóricos se apressaram em conceituá-las e classificá-las para que pudessem ter o estatuto de arte.

Já outros críticos questionam as criações de Gehry, enquanto espetáculo e marca. Seriam arte mesmo?!

Gehry é um artista do seu tempo, que imprime em suas obras, incluindo as novas tecnologias, o contexto em que vive. Aqui é importante pensar que a tecnologia não cria, mas projeta, permite, possibilita superar. Esta deve ser a postura da educação diante dessa Era das novas tecnologias. Aproveitá-la como uma ponte, como ferramenta fundamental da expressão e criatividade humanas!

Para ele, a satisfação não está no resultado, mas no processo, na possibilidade do esboço. Do fim como um novo começo. 

Marisa diz que em relação à pesquisa, quando terminamos um trabalho é o melhor momento de publicarmos artigos, revisitá-lo. É o momento de maior inspiração.

Ela também acrescenta que todo risco exige coragem, determinação, disposição, pois não é fácil saltar fora da ordem, duvidar, dobrar e subverter as regras. Gehry e nós, assumimos os riscos, mas não sem medos!

Num diálogo de Gehry e Pollack, podemos refletir sobre a relação comercial e artística de confronto dos artefatos e criações humanas, ou ainda, da relação do trabalho com a necessidade financeira e necessidade da expressão da arte, onde os dois reconhecem ser possível encontrar pequenos espaços, seja na arquitetura ou no cinema, seja na Academia, de dizer algo novo, citando algo velho, de mostrar que há outras coisas além das que já se conhece. 

Para que nossas crianças possam produzir arte, buscando articular realização profissional e criatividade, é preciso resgatar as vivências familiares, tão esvaziadas pelas mídias, segundo Marisa. Ao invés de 'medicar', canalizar sua energia excessiva para a criação, onde as novas tecnologias (tv, computador, internet), artefatos do nosso tempo, possam servir de ferramenta e potência de superação.

sábado, 10 de março de 2012

5 Filmes nas Lojas Americanas!

  
Hoje dei uma passada nas Lojas Americanas e encontrei lançamentos de filmes super bacanas por R$12,90. Selecionei alguns títulos que valem a pena serem 'pescados' em alguma loja por aí. Se for pra pagar R$7,00 por uma locação, melhor comprar pelo dobro do preço, enriquecer a coleção e assistir (e emprestar) quando quiser, certo?!! Fica a dica!!

Títulos bacanas por R$12,90:




-"Doutor Jivago" de David Lean (1965)   
Obs.: Dvd duplo e um clássico da déc. 60!!
 
-"Os homens que não amavam as mulheres" de Niels Arden Oplev (2009)
Obs.:  Para quem viu o filme recente de 2012, esta é a elogiada versão sueca.

-"O menino do pijama listrado" de Mark Herman (2008)

-"Toy Story 3" de Lee Unkrich (2010)

-"Alice no país das maravilhas" de Tim Burton (2010)

"O menino do pijama listrado" de Mark Herman 2008


Qual seria a perspectiva de uma criança diante do Holocausto (extermínio dos judeus na 2ª Guerra Mundial), assunto já tão citado, recontado e 'esgotado' em textos e filmes?! Esta foi a premissa do escritor John Boyne para escrever o livro que inspirou este filme de Mark Herman!!

Diferente do premiado "A vida é bela" de Roberto Benigni (1999) que também retrata a ingenuidade de um menino judeu e as peripécias do pai para conservar sua inocência, o ponto de vista recai sobre o 'outro' lado da história, talvez humanizando um pouco os 'cúmplices' inocentes do horror do Holocausto, as crianças.

Baseado em depoimentos e experiências reais (livro e filme), "O menino do pijama listrado" conta a história do pequeno e ingênuo Bruno (Asa Butterfield de Hugo), de 8 anos, filho de um oficial do partido nazista, que se muda com a família para uma área isolada, confundindo um campo de concentração (e extermínio) com uma estranha 'fazenda' a ser explorada.

É nesta aventura infantil, de explorar lugares novos e driblar o tédio que Bruno conhece  Shmuel (Jack Scanlon), um garoto judeu da mesma idade, que também não entende o horror que vivencia, apenas por ser judeu.

É delicado pensar a infância diante do Holocausto. Falsas verdades  e ideologias impregnadas geração após geração, onde crianças e jovens mal compreendiam o horror que vivenciavam e compactuavam, enquanto vítimas ou admiradoras de Hitler e do partido nazista. 

A complexidade dessa relação infânciaxHolocausto, projeção da relação infância e mundo adulto, pode ser exemplificada em diversos momentos do filme: nas distorções ingênuas de Bruno diante da realidade cruel (fazenda, pijamas; médico que descasca batatas;. fumaça fedida, etc); na presença de um professor que perpetua a ideologia nazista; na mudança de comportamento da filha adolescente (bonecas dão lugar aos cartazes do partido nazista); na orientação equivocada e afetuosa da irmã ao explicar quem são os 'inimigos' judeus; na cegueira generalizada dos adultos e a incompreensão da criança diante dos acontecimentos. 

Para Bruno, como lidar com a relação de amor e ódio diante de um pai soldado? Orgulho ou vergonha? Como condenar seu próprio pai ou seu melhor amigo judeu? Bruno ama e quer os dois, mas não compreende a impossibilidade das relações.

Interessante analisar a seqüência do filme 'documentário' (recriado pela produção, inspirado num vídeo real)  utilizado para convencer as pessoas com falsas verdades sobre os campos de concentração. Bruno fica convencido de que seu pai não é cruel e seu amigo vive num lugar bom, mas porque 'a fazenda' é tão diferente do vídeo, é o que Bruno irá descobrir!!

Compreensível e deplorável pensar que o cinema foi usado para distorcer os fatos e perpetuar preconceitos! E se engana aquele que pensa que é coisa do passado! A 'lavagem cerebral' permanece a cada tomada de um filme ou programa de televisão, em cada ideologia implícita e/ou explícita, seja para perpetuar o consumismo, o capitalismo, preconceitos e discriminações de cor, gênero e sexualidade! 

É preciso não se alienar e julgar qualquer coisa diante de nós!! É preciso ter opinião 'própria', senso crítico e ser reflexivo!! É preciso avaliar, analisar, pensar sobre!

"Never Again" é o slogan pós-guerra utilizado para justificar memoriais, museus, livros, filmes e relatos de experiências, para que ninguém jamais esqueça o que aconteceu no passado: a negação total da humanidade com 'crueldade máxima'!!

Eu não li o livro, mas já conhecia a história (e o final) antes de assistir o filme e talvez por isso não tenha ficado profundamente comovida. Sem dúvida, fiquei emocionada, triste e tocada, mas o 'outro' lado da história não soa tão cruel e injusto, quando acontece por um grave mal entendido, resultado daqueles que resolvem enganar e iludir uma criança com omissões ou falsas verdades.

Ou talvez eu esteja esgotada de rever mais uma versão dessa triste história da humanidade, esgotamento reforçando por uma experiência dolorosa ao visitar um Campo de Concentração em Weimar na Alemanha no ano passado.

Mas como dizem Mark Herman (diretor) e John Boyne (escritor), é preciso lembrar cada nova geração do que aconteceu e fazer a pergunta "Que mundo vocês querem para si?! De Brunos e Shmuels? Ou entre iguais?!" Que esse horror jamais se repita, espero eu!!!

segunda-feira, 5 de março de 2012

"O artista" de Michel Hazanavicius 2011


Em tempos de cinema 3D de alta definição e super produções hollywoodianas, o nostálgico Michel Hazanavicius resolveu negar todas as inovações tecnológicas para homenagear 'literalmente' "O primeiro cinema", fazendo um filme 'mudo', preto&branco e 2D.

"O artista" é protagonizado pelo premiado ator francês Jean Dujardin como o personagem George Valentin, grande estrela (fictícia) do cinema mudo, que entra em crise 'existencial' na transição do cinema mudo para o sonoro. Transição já muito bem ilustrada no bem-humorado musical "Cantando na chuva" de Stanley Donen (1952). 

Diferente de Donen, Hazanavicius preferiu mostrar os conflitos psicológicos que grandes estrelas (de fato) vivenciaram nesta época da História do Cinema (como o genial Chaplin e seu personagem Carlitos), do auge ao declínio da carreira, incorporando inclusive os limitados planos fixos e diagonais em cenas dramáticas ou momentos de tensão; trilha sonora instrumental e filtros de câmera que acompanham o teor das cenas e humores dos personagens (tons esverdeados, azulados, avermelhados, ainda que o filme seja em preto&branco), recusando totalmente a forma de fazer cinema atual.

Homenagem?! Nostalgia?! Apego?! Inovação?!

Minha mãe me perguntou se este filme não será o primeiro de muitos com esta velha/nova 'estética', e eu respondi que não! "O artista" é um filme específico e especial, dentro de um contexto, onde a verdadeira revolução se apresenta na introdução do cinema 3D em alta definição. Negar a cor, o som e a tridimensionalidade (ainda 'recente') é apenas uma escolha estética e inovação/renovação passageira, que continuará aparecendo aleatoriamente como expressão artística, mas jamais como estética condutora de um 'novo' cinema, afinal o cinema não evoluiu à toa!! 

Foi delicioso acompanhar a trama clichê e toda dor e sofrimento de George Valentin e toda tensão sexual, disfarçada pelo romance sutil e troca de olhares, com a ousada e doce Peppy Miller (Bérénice Bejo), típico de um cinema de 'poucas palavras', universal e super romântico, no melhor estilo hollywoodiano "E o vento levou", "Casablanca" e outros do tipo.


Hazanavicius fez um filme redondinho (início, meio e fim "Happy End"), emocionante e nostálgico. Chorei e ri com os personagens, sem me incomodar com o silêncio das falas, acompanhadas de uma belíssima trilha sonora (quase um personagem paralelo) e precisos silêncios. Parecia que eu havia me transportado no tempo, espectadora de uma outra era do cinema, que mereceu esta homenagem, mas que jamais poderia negar tudo feito até então. Digo parecia, porque em outras épocas, o acompanhamento musical seria presencial e não digital! =)
 
Nós cinéfilos adoramos os clássicos, mas também adoramos o futuro do cinema em sua originalidade, criatividade e complexidade. Negar sua trajetória foi uma singela e localizada homenagem de Hazanavicius, reconhecida por Hollywood (cenário do filme) com o Oscar de Melhor filme e diretor (além de outras categorias), mas duvido que este feito seja repetido com freqüência, afinal para o público leigo, amante do cinema 'atual' e 'espetacular', "O artista" seria chato e monótono diante de filmes de ação explosivas, tomadas complexas em 3D, mil peripécias dos personagens e inovações tecnológicas.

É preciso certa sensibilidade e delicadeza para se dispor a ver um filme que nega toda inovação já realizada por grandes diretores, não só em som e cor, mas em movimentação de câmera, fotografia, profundidade de campo, roteiro, trilha sonora, atuação, etc.


Sou grata a Hazanavicius (O artista) e Scorsese (Hugo) por me presentearem com 2 filmes brilhantes que serão incorporados as minhas aulas de cinema e ilustram muito bem esta linda e simples fase do primeiro cinema

De um lado, um filme que explora tudo que o cinema já reuniu em estética e tecnologia (Hugo), de outro, um filme que nega tudo isso (O artista). Para quem se importa com o Oscar e gostaria de entender porque aquele que nega foi premiado?! Porque assim como Avatar, Hugo não precisará de prêmios para ser reconhecido como um grande filme e ser inesquecível entre todo tipo de público (cinéfilos e leigos), já "O artista", como o simples "Guerra ao Terror", merecia uma pequena chance de se mostrar e receber o valor que merece, ainda que muita gente torça o nariz e desconsidere o que ele traz de interessante!!

"Rango" de Gore Verbinski 2011


Ouvi dizer que esta não é uma animação especialmente para crianças. Estavam certos!

Rango é um camaleão (ou lagarto?) doméstico que acidentalmente embarca numa aventura 'faroeste', em busca da própria identidade. Quem sou eu neste mundo?!

A inovação de Verbinski está em criar personagens visualmente feios e estranhos, num ambiente hostil, típico do 'velho oeste'. Nada de fofura ou harmonia visual, comuns nos filmes de animação (mesmo o ogro bonitinho Shrek), mas ratos, esquilos, topeiras, tartarugas, coelhos, cobras e lagartos é que dão vida aos heróis e vilões da trama, onde lutam pelo item mais valioso (ironicamente) do deserto, a água!

Talvez a grande sacada de Verbinski esteja em resgatar os 'excluídos' do cinema e da animação, valorizando também o diferente, o feio, o defeituoso, o imperfeito, arquétipos do que é verdadeiramente humano! E talvez tenha sido bem mais difícil, tamanha a perfeição e qualidade das imagens, rugas e feridas do tempo!

Rango é um filme assim, feio, sujo, imperfeito e dúbio, ironicamente 'humano'!!

Filmes do mês: março 2012

São atualizados no decorrer do mês. 

13C-"Jogos Vorazes" de Gary Ross 2012 (3)
12D-"A pele que habito" de Pedro Almodóvar 2011 (3)
11M-"Esboços de Frank Gehry" de Sydney Pollack 2005 (4)
10M-"Salani - Adeus" de Isabel Noronha e Vivian Altman 2010 (3)
09M- "Mãe dos Netos" de Isabel Noronha e Vivian Altman 2008 (3)
08D-"O menino do pijama listrado" de Mark Herman 2008 (4)
07T-"Besouro Verde" de Michel Gondry 2011 (1)
06T-"O primeiro mentiroso" de Ricky Gervais e Matthew Robinson 2009 (1)
05T-"Toy Story 2 - Em busca de Woody" de Lee Unkrich 2010 (3)*
04T-"Rango" de Gore Verbinski 2011 (4)
03T-"A outra" de Justin Chadwick 2008 (3)*
02T-"Quando um homem ama uma mulher" de Luis Mandoki 1994 (4)
01C-"O artista" de Michel Hazanavicius 2011 (3)

*Filmes Revistos 

Organização: Ordem crescente - em números.
Nome do filme + diretor + ano.
Códigos: X (internet), B (baixado), C (cinema), D (dvd acervo pessoal), L (locadora), T (tv), M (mestrado)


Notas:

(0) dispensável
(1) ruim ou fraco
(2) razoável
(3) bom - técnica ou emocionalmente
(4) muito bom - rolou um punctum
(5) excelente - marcou minha vida
(P) prazer culpado (tecnicamente ruim, mas adorei)