terça-feira, 14 de janeiro de 2014

"O lobo de Wall Street" de Martin Scorsese 2014

 
Quando você procura levar a vida com mais leveza, (ou pelo menos eu) vai ficando difícil gostar de filmes com tramas tão pesadas e desnecessárias, ainda que inspiradas na 'dura' realidade da vida. Neste caso, realidade do universo sórdido (e ilegal) do mercado de ações e seu slogan de ganhar dinheiro, sem medir as consequências.
 
Um garoto pobre que queria ser rico e era esperto o bastante para atingir seu objetivo em pouquíssimo tempo. Aprendeu o suficiente para abrir o próprio negócio e conquistar gente desonesta o bastante para enriquecer e enganar os outros (endinheirados ou não) com ele. Diante de tanto dinheiro, sexo, e principalmente drogas contribuíram (como sempre) para o declínio dessa brilhante e ilegal trajetória.
 
Foi interessante (na condição de 'pesquisadora' curiosa) conhecer esse mundo 'sujo', mas não gostei do filme. Eu saí enojada. Isso é bom?! Se era o que Scorsese queria, conseguiu. Mas isso é bom?!
 
Em um parágrafo, eu poderia dizer que o filme foi esclarecedor (e exagerado) sobre o assunto (mercado de ações), tal como o pesado e inovador Cidade de Deus (Fernando Meirelles) foi sobre o mundo do narcotráfico. A combinação de humor e violência funcionou novamente. A atuação de Di Caprio foi excelente (mil personagens em um só. vale prêmio), mas detestei a figura feminina no filme, claro. As mulheres são retratadas como objetos, troféus e descartáveis, tanto nos papéis das esposas (traídas, fúteis, espancadas), como das 'milhares' de prostitutas que ajudam a ilustrar o mundo sórdido dos homens ambiciosos e sem escrúpulos. O filme já começa com Jordan Belfort (incorporado pelo premiado Leonardo Di Caprio) ganhando um boquete no carro. E é esse papel de submissão que a figura feminina vai desempenhar por todo o filme.
 
Eu já vi alguns filmes de Scorsese, mas ainda não soube identificar sua linha de raciocínio e estilo. Ação? Sarcasmo? Se existe algo de destaque no filme, é o humor e os diálogos depravados entre os personagens. O impossível e inesperado se torna engraçado, mesmo que seja um riso nervoso. Era pra ser engraçado? Di Caprio dá vida ao personagem, mas começa a revelar traços permanentes da parceria entre ele e Scorsese. O mais do mesmo, como diria meu marido. 
 
Mas porque continuo achando este, um filme tão desnecessário? Seria minha visão mais 'pollyana' da vida? Seria a repulsa pelo papel feminino no filme? Seria por ver um personagem que até simpatizei (porquê diabos!) não se dar mal no final? O que causaria este mal estar? Estaria aí, a tentativa de Scorsese? De provocar mal estar, chocar, escancarar um mundo superficial e cruel que é (ou pelo menos, um dos lados) o mercado de ações? Um misto de ambição, ingenuidade, confiança e gente traiçoeira?
 
Baseado no livro de memórias do verdadeiro lobo de Wall Street (sim, ele existiu!), a narração de Jordan dá dinamismo às cenas e ao filme, o que o torna peculiar, já que apresenta apenas o ponto de vista de quem aplica os golpes, mas nunca as 'vítimas' (ambiciosas, mas vítimas). Nem as vemos, portanto não nos identificamos com elas. Estaria talvez aí a explicação pra se identificar com o protagonista. Sórdido, mas divertido! Será?
 

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